
Desenvolvedora: TYPE-MOON Studio BB
Publicadora: Aniplex
Gênero: Visual Novel
Data de lançamento: 27 de Junho, 2024
Preço: R$ 249,00
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Aniplex.
Revisão: Davi Sousa
Por fins de entretenimento adjunto da informação, eu sempre tento trazer um pouco de mistério ou criar uma dúvida com as análises pelas quais sou responsável. Por consequência, é sempre mais interessante ter um jogo com muito para comentar do que qualquer outra forma. De certo modo, TSUKIHIME -A piece of blue glass moon– tem muito que eu possa falar, mas não sei como fazer mistério com ele. O jogo é absolutamente tudo que um fã da TYPE-MOON (ou de visual novels em geral) poderia querer de uma história interativa clássica.
Como remake, ele é melhor que o seu original em quase todos os aspectos, e os que não superam são tão facilmente perdoados que não existe um debate de qual história uma pessoa interessada na franquia deveria começar. A resposta é apenas uma: essa!
Witch on the Holy Night deu o pontapé inicial para as traduções das visual novels da TYPE-MOON virem ao Ocidente e, apesar de uma primeira tentativa com erros de diagramação e formatação, a equipe, em sua segunda tentativa, acertou em cheio ao trazer essa história. E ela por si só é uma das minhas favoritas.
Boa como vinho

A essa altura, o Tsukihime original é um jogo velho, com idade para beber, dirigir e na faixa etária indicada para ler a si mesmo, tanto em sua versão original quanto em sua nova versão. Tanto o jogo original quanto o remake são histórias adultas, mas é muito difícil dizer que a versão dos anos 2000 era uma história madura, escrita por jovens adultos para jovens adultos, que, por carregar o estigma de um jogo erótico, tinha que balancear seus temas com suas imagens, mas principalmente introduzir os conceitos das criaturas noturnas do Nasuverso.
A piece of blue glass moon conserta essa imaturidade. Tsukihime é uma história sobre impulsos e pecados; portanto, os personagens — sobretudo o protagonista, Tohno Shiki — cometerão ou já cometeram atrocidades com o passar da história. O autor, Kinoko Nasu, conseguiu manter o impacto e estranheza da história antiga e os atualizou em uma versão mais madura da sua história, que finalmente pode causar as emoções que o leitor deveria sentir inicialmente ao invés de um confuso levantar de sobrancelhas, isso sem contar o verdadeiro ponto alto da história.

Este é o ponto mais forte das histórias de Nasu: todo o mythos por trás de tudo que rege a narrativa. Isso era real no original e se mantém na nova versão. O uso da terminologia clássica de magia e terror é usado com maestria para comparar com as versões deste universo. Muito pouco foi mudado entre as versões, apenas mais elaborado, contando explicações mais divertidas que o original, mesmo que de certa forma ainda prolixas, como de costume para o autor.
A história, além disso, recebeu muitos elementos novos, tendo como destaque os personagens. Muitos personagens foram adicionados; um, em específico, em troca de outro, e em sua maioria, eles servem para adicionar nuance aos elementos da narrativa antiga — Não apenas ao universo em si, mas para os personagens que antes perdiam, não por falta de tempo de tela, mas por nuance mal colocada, e a maior vencedora disso é a segunda heroína do jogo, Ciel.
A adorável amante de curry
Ciel foi a maior perdedora do jogo original e, ironicamente, a com maior tempo de tela, superando até a própria Arcueid.

Sua rota era péssima, com as cenas mais duvidosas e eticamente imorais do jogo, não por uma provocação de uma história desafiando o leitor, e sim de uma tentativa de tornar essa história um jogo com cenas adultas, além de focar muito mais na história do protagonista em relação com a Ciel do que a personagem por si só. Independentemente disso, ela ainda era uma personagem importante para a narrativa, e a qualidade da sua rota não diminuía a popularidade da personagem, mas era evidente que ela precisava de novas ideias para uma nova versão e, principalmente, se destacar mais da rota da sua rival, a vampira.
Em compensação, Ciel foi a maior vencedora da nova versão, recebendo uma rota que finalmente respeita a personagem como ela merecia na história original, com conteúdo que apenas pega emprestado da sua versão antiga, modifica e cria algo completamente novo. Vendo por esse ângulo, o jogo vira, e a rota da Arcueid se torna a inferior deste jogo.
A um passo de um anime
Visualmente falando, A piece of blue glass moon é a perfeição do gênero. O jogo usa a câmera, os cenários e uma quantidade impressionante de ilustrações de personagens para simular movimento e emoções. Ele abdica do mover de bocas em imagens estáticas por expressões completas ou, em certas circunstâncias, ilustrações que aparecem apenas uma vez no jogo e, se repetidas, com máscaras tão perfeitas que podem muito bem enganar o leitor.
Os cenários são todos novos, já que o original não conseguiria servir de muito exemplo para a nova versão, levando em conta que muitos dos ambientes seriam diferentes pela diferença cronológica de quando se passam as histórias; porém, os cenários mais icônicos foram finalmente desenhados e representados de maneira bela, e servem muito bem quando o jogo quer ser tanto mais atmosférico quanto dinâmico.

Somam-se os visuais ao som do jogo, que tem uma trilha sonora gigante, que não só usa as 10 músicas do original em novas versões, mas também cria novas composições excelentes, finalmente dando um tema de personagem a Tohno Shiki, o melhor protagonista de TYPE-MOON, e eu morrerei por essa opinião. E claro, há a excelente dublagem, onde todos os personagens têm vozes bem atuadas e que encaixam perfeitamente.
As imagens se movem e se alternam, com mudanças nas luzes e no cenário, além de filtros que deixam o jogador cada vez mais imerso. As músicas são perfeitamente encaixadas e os momentos de personagens sempre são acompanhados de uma dublagem excelente. Esse jogo é quase uma resposta ao gênero como um todo, conhecido por ser apenas um livro, que nem sempre usa seu formato para atingir um potencial completo, mas Tsukihime aumenta a barra do gênero, só por existir.
O ponto fraco
Se é possível destacar um ponto fraco para A piece of blue glass moon, é que a história está tecnicamente incompleta. Ambas as rotas presentes no jogo possuem começo, meio e fim, apesar do começo se mesclar de várias formas em ambas. Porém, as personagens Hisui, Kohaku e Akiha, que tinham rotas no original, não estão presentes neste jogo.
Foi decidido separar as rotas Near Side e Far Side, como o jogo original as chamava, em dois jogos diferentes. Isso dividiu opiniões, mas eis os meus 50 centavos sobre o assunto: no jogo original, uma rota levava o jogador do começo ao fim sem pular nenhum diálogo, uma média de 10 horas para ler tudo.
Todas elas possuíam o mesmo começo, e algumas se separavam mais cedo que outras. Logo, o jogo original tinha uma média de 50 horas de leitura, 10 horas abaixo da média de A blue glass moon, que triplicou o tamanho de cada rota.

As rotas Far Side não se conectam tanto com a história das Near Side, focando muito mais no desenvolvimento dos personagens da mansão do que no mythos da cidade e o conflito em volta dela. Apesar de defender essa decisão, compreendo que ainda é uma história que não contou tudo que podia contar, mas se essas rotas forem recebidas com tanta qualidade quanto as duas presentes neste jogo, então posso dormir tranquilo.
Conclusão
Eu genuinamente tenho muito pouco a reclamar de TSUKIHIME -A piece of blue glass moon-. Ele é o remake ideal de uma história que contém elementos datados, mas ainda tinha potencial para se tornar um dos clássicos da Type-Moon, com capacidade de dividir espaço com seu irmão mais popular.

O jogo não só prova isso, mas dá um show, alavancando a qualidade esperada de obras do gênero com verba suficiente, quase quebrando a barreira de uma visual novel e de um anime, a ponto de parte de mim sentir que uma adaptação para anime não faria jus às animações presentes neste jogo, apesar de que um anime de Tsukihime seria legal. Pena que ele nunca teve um.
Mesmo sendo um cenário utópico esperar que a TYPE-MOON volte a investir pesado em suas visual novels e lançá-las com frequência (não enquanto Grand Order continuar sendo o maior ganha-pão da empresa), se de tempos em tempos um produto bom como este for entregue, então sou um fã satisfeito, e se as traduções vierem logo atrás, então eu sei que estarei comendo bem. Por enquanto, irei reler essa história com mais calma e comemorar a minha primeira nota perfeita no site.
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