Desenvolvedora: TYPE-MOON
Publicadora: Aniplex
Gênero: Visual Novel
Data de lançamento: 07 de agosto, 2024
Preço: R$ 88,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Aniplex.
Revisão: Marcos Vinícius
Uma das mais famosas Visual Novels finalmente foi localizada e lançada oficialmente no resto do mundo. Fate/stay night REMASTERED traz para o Ocidente a icônica história que deu origem a uma das séries mais conhecidas pelos fãs de gatcha.
Leia também:
A noite de um destino
Originalmente lançado apenas em PC’s japoneses, Fate/stay night se tornou um sucesso entre os amantes de Visual Novel por oferecer uma história envolvente que combina um mundo atual com elementos do ocultismo, pequenos momentos slice of life, mistérios e suspense, além de uma temática de universo que encantou e intrigou muitos jogadores que desejam mais aventuras que usassem as regras e termos estabelecidos nesta narrativa.
A série em si, é claro, cresceu e se “libertou” dos confins de uma Visual Novel e de seu país natal, expandindo-se para todas as direções. Animes, filmes animados, spin-offs, jogos em outros gêneros e um mobage de sucesso. Curiosamente, enquanto a maior parte do material expandido de Fate chegou a ser lançado em outras partes do mundo, seu início sempre ficou restrito à pequena ilha localizada no Oceano Pacífico.
O sucesso de Fate e de toda a série que se originou fez com que muitos fossem atrás da obra original. Mesmo com a limitação de estar apenas disponível em japonês, os fãs pegaram para si o trabalho de localizar o título e por anos, mesmo que oficialmente Fate/stay night estivesse disponível apenas no Japão, os fãs que moram fora do arquipélago podiam aproveitar a aventura e sua rica história em inglês graças ao esforço de outros jogadores.
Apenas 20 anos após seu lançamento japonês é que Fate/stay night se encontra oficialmente disponível para o resto do mundo graças aos esforços da Aniplex e da TYPE-MOON em reapresentar seu legado Japão afora por meio de remakes e remasterizações, a exemplo de TSUKIHIME -A piece of blue glass moon- e Witch on the Holy Night. A tradução em inglês se beneficia de anos de material adicional para ajudar a manter uma continuidade entre os termos compartilhados entre as várias narrativas, mas ela também mantém algumas características próximas do que a tradução dos fãs já utilizava. Antes de prosseguir, porém, é preciso explicar algo relacionado a Fate/stay night REMASTERED.
Limpando o destino
Fate/ stay night originalmente é um eroge. O criador da história, Kinoko Nasu, já mencionou em entrevistas passadas que ele incluiu tais cenas apenas como uma forma de tentar promover o jogo. As cenas de sexo na versão original são conhecidas por serem realmente terríveis na forma como são escritas, com detalhes e escolhas de palavras que acabam fazendo-as serem lembradas como um grande material para memes.
Após o sucesso inicial de Fate/stay night, novas versões da Visual Novel foram relançadas para o PC, PlayStation 2 e PS Vita. Todas essas versões adicionaram novas coisas, como dublagem, cenas adicionais e outros extras. Ao mesmo tempo, essas versões também se livraram das cenas de sexo, transformando Fate em uma Visual Novel mais “aceitável”.
Mesmo que o objetivo inicial tenha sido apenas para vendas extras, é verdade que as cenas de sexo, especialmente algumas, impactaram a narrativa final de Fate/stay night. Em certos momentos de cada uma das rotas, Nasu teve que reescrever o que outrora eram cenas sexuais para algo mais de acordo com o seu universo estabelecido e isso gera alguns momentos bem estranhos, uma vez que o sexo em si era colocado como algo que servia para uma função específica dentro da narrativa.
Esse é claro, não é o único material adulto da versão original de Fate/stay night. Há outras coisas pesadas que se mantiveram, mesmo que tenham sido “reduzidas” ou deixadas de ser explícitas para serem implícitas, mas elas ainda existem. O que quero dizer com isso é que a versão encontrada no Switch de Fate/stay night é baseada no seu relançamento de PS Vita (2012), Fate/stay night [Réalta Nua]. Essa é a mesma versão que todos os outros materiais adicionais de Fate são baseados, incluindo os animes produzidos pelo estúdio Ufotable, então se você assistiu algum deles, será capaz de se encontrar na narrativa sem problemas.
Shiroooooooou
A trama de Fate/stay night foca em Shirou Emiya, um jovem que tem o sonho de se tornar um Herói da Justiça. Após testemunhar algo que não deveria, Shirou se vê envolvido na Guerra do Santo Graal, um confronto secreto entre 7 magos que lutam ao lado de seus Servos, espíritos Heróicos do passado invocados para a era moderna, com o vencedor conseguindo conquistar o Santo Graal, um poderoso artefato capaz de realizar qualquer desejo.
Mesmo não tendo nenhum desejo a ser realizado, Shirou acaba sendo forçado a participar da guerra ao lado de Saber. A partir deste ponto, a narrativa evolui de diferentes formas, explorando temas e personagens específicos. Fate/stay night possui três rotas, com cada uma focada em uma das três principais heroínas da obra: Fate, Unlimited Blade Works e Heaven’s Feel.
Inicialmente, apenas a primeira rota, Fate, pode ser aproveitada pelo jogador. Nela, o foco é em Saber, onde aprendemos mais sobre a personagem, vemos Shirou se desenvolver em busca de poder alcançar seu sonho e temos uma introdução ao universo da série e seus elementos. Terminando Fate, é possível re-jogar o título e aproveitar a segunda rota, Unlimited Blade Works.
Em Unlimited Blade Works, Rin Tohsaka, uma das magas participando na guerra e que tinha um papel de coadjuvante em Fate, se torna a heroína principal e o foco da narrativa. Além de acompanhar sua história e descobrir mais sobre ela, Unlimited Blade Works também é um ponto importante para a evolução de Shirou, adicionando uma camada a mais para o protagonista, que precisa reavaliar seu sonho e confrontar pesadelos de seu passado.
Apenas ao terminar ambos Fate e Unlimited Blade Works é que a última rota fica disponível. Heaven’s Feel é algo bem diferente de suas contemporâneas, sendo uma narrativa muito mais focada em temas pesados como estupro, trauma e muito mais. A heroína da rota é Sakura Matou, que tem presença quase que mínima nas duas outras narrativas. Além dela, Heaven’s Feel também introduz personagens que não são vistos nas outras rotas, além de expandir outros.
As três narrativas começam da mesma maneira, sendo até possível pular os três primeiros dias em leituras subsequentes. Somente no terceiro dia é que as escolhas surgem e podemos alterar a rota que vamos acompanhar. Cada história apresentada é auto contida, seus eventos não são referenciados uma nas outras e a evolução de cada personagem muda conforme a rota que acompanhamos. Assim, a forma como é necessário jogar o título ao menos três vezes para conferir todas as rotas, uma vez que elas são desbloqueadas aos poucos, é bem inteligente, visto que cada história só dá espaços para certos personagens evoluírem e crescerem em suas narrativas.
Dito isso, tenho apenas dois pequenos problemas com as histórias apresentadas em Fate/stay night. Não me leve a mal, a narrativa geral deste título é boa e existem certos momentos que me deixaram intrigados e outros animados, mas a narrativa sofre em certos casos quando decide expandir demais para preencher buraco. Especialmente próximo do final, pude perceber que algumas cenas só estão ali para esticar a narrativa. Também há muitas cenas que passam a maior parte do tempo descrevendo coisas,ou sendo apenas monólogos de personagens, com alguns apenas reforçando ideias passadas.
Outro problema em minha opinião é como os primeiros dias de cada rota repetem bastante os mesmos elementos narrativos, especialmente explicações sobre alguns termos. Fate e UBW repetem a mesma cena onde Shirou aprende os primeiros detalhes sobre a guerra e alguns termos mudando apenas algumas poucas coisas. O que é uma pena que essa cena conta como duas versões diferentes e por isso não é possível pulá-las igual as anteriores.
De uma forma geral, a narrativa de Fate/stay night é muito boa. Shirou não é seu típico protagonista, ele possui elementos similares ao arquetípico de alguém do médium, mas como já é comum com títulos da TYPE-MOON, ele tem uma “falha” que o faz ser bem mais complexo e com uma faceta diferente do esperado, algo que torna sua evolução ao longo de cada uma das rotas realística e muito legal de ler. Os outros personagens também são bem escritos, as heroínas possuem um bom crescimento em cada uma de suas rotas e os vilões são interessantes e bem divertidos de se acompanhar.
Lendo e aprendendo
Fate/stay night é uma visual novel, então sua jogabilidade é a coisa mais simples de todas, ler. Como só está localizada em inglês, é essencial conhecer a língua, se não, bem, você não vai entender a história. Além de apertar botões para avançar, também é possível ativar uma opção de texto automático, além de mudar a velocidade para que o texto seja mostrado mais rápido ou devagar.
Como uma boa VN, também é possível com um toque no botão abrir um menu de recapitulação com texto já exibido caso você tenha perdido algo. Uma opção bem útil caso você tenha pulado algo muito rápido, mas que em um certo momento bugou comigo após eu pular uma cena já assistida.
Fate/stay night também permite que os jogadores abram um menu principal durante a leitura para salvar, carregar um save antigo, acessar a database de servos, que inclui informações sobre os mesmos e é atualizada sempre que descobrimos algo novo, além de acompanhar o flowchart da narrativa. Em certos momentos da história podemos ter que escolher como prosseguir e pelo flowchart podemos conferir as cenas já vistas e até mesmo voltar atrás para fazer outra escolha.
A ideia de múltiplas escolhas é boa, mas não muito bem aproveitada, visto que geralmente escolhas erradas resultam em um imediato final ruim. Existem algumas que acabam prosseguindo a história um pouco antes de terminar abruptamente, mas a maioria resulta em Shirou morrendo na hora. Alguns desses finais ruins são um pouco forçados na minha opinião, com o protagonista tendo uma morte horrível e bem detalhada, o que pode tirar um pouco da graça quando a ilusão de que as escolhas importam acaba. No final das contas, as escolhas só servem para determinar se o jogador será penalizado ou não, o que para uma VN cujo principal objetivo é prender a atenção com sua história, é um pouco decepcionante.
Atingir um final ruim desbloqueia uma pequena ajuda na forma do Taiga Dojo. Sendo uma forma cômica de ajudar os jogadores, o Taiga Dojo é bastante útil caso seja necessário descobrir como avançar na história, mas honestamente, não vi necessidade de precisar utilizá-lo, uma vez que bastava eu voltar em um save anterior e escolher outra opção. O que para mim só indica que esta opção não foi bem incluída no jogo, visto que ele mais está ali para aqueles que gostam de fazer 100% e ver todas as cenas possíveis.
Um livro de imagens e sons
Acompanhando o longo texto de Fate/stay night temos ilustração e efeitos sonoros, além de músicas e vozes de personagens. Os dubladores do anime retornam aqui, então temos alguns nomes bem famosos na dublagem do título. Por alguma razão, contudo, Shirou começa o jogo com sua voz mutada, então eu recomendo você mudar nas configurações assim que abrir a VN pela primeira vez em seu Switch.
As ilustrações da nova versão de Fate/stay night são as mesmas do original. Takashi Takeuchi, o principal ilustrador da Type Moon, é o responsável pela arte do título e ao longo do anos seu estilo foi ficando mais refinado e evoluindo para algo mais moderno. Como Fate/stay night foi um de seus primeiros trabalhos, temos aqui algumas artes um pouco mais esquisitas, especialmente para quem está acostumado com seus trabalhos mais modernos. Os rostos dos personagens especialmente são um problemas em certas reações, mas o resto até que é algo passável.
Como a história envolve lutas entre personagens, é comum que tenhamos cenas de batalhas. Como Fate/stay night é puro texto, essas cenas de luta são um pouco esquisitas, com a maioria sendo apenas efeitos sonoros e visuais e vários closes em uma mesma imagem de vários ângulos para passar a sensação de ação. O que ajuda a vender as cenas de luta em minha opinião é a trilha sonora.
Fate/stay night tem uma bela trilha sonora que combina bem com os momentos que a história quer passar. Como a narrativa tem uma boa mistura de momentos slice-of-life, ação, suspense e outros, a trilha sonora precisa se adequar bem para ajudar a destacar tais momentos e é exatamente isso que ocorre aqui. Unlimited Blade Works em si tem uma das melhores cenas de luta da VN em minha opinião graças a uma combinação descritiva do momento com a trilha fenomenal que toca durante toda a “ação”.
Eu sou o texto da minha VN
Fate/stay night REMASTERD finalmente permite que fãs possam aproveitar oficialmente a primeira narrativa da série Fate. Para aqueles que sempre tiveram curiosidade em ler a VN e descobrir porque muitos consideram os animes como uma versão ruim da história, bem, a chance está aqui. Só se prepare para alguns momentos chatos onde há grandes monólogos ou descrições super detalhadas de algumas coisas que podem não ser tão interessantes ou que já foram descritas minutos antes.
Esta é uma leitura recomendada para os fãs de Fate, até mesmo aqueles que só conhecem Fate/ Grand Order. Alguns talvez não gostem de como a história é limitada de início, mas a experiência geral é de algo muito bom e mesmo quem não curte alguma das heroínas deveria ler só para acompanhar este rico universo.
Prós
- Três rotas muito boas que criam a base para um rico e detalhado universo;
- Evolução de personagens como Shirou é muito bom e cativante;
- Trilha sonora ajuda a história a se destacar em certos momentos.
Contras
- Poucas escolhas realmente importam na narrativa;
- Algumas das artworks mostram sua idade;
- Narrativa tem seus momentos entediantes, especialmente perto dos finais de cada rota.