Desenvolvedora: Moonana
Publicadora: Serenity Forge
Gênero: RPG, Ritmo
Data de lançamento: 18 de Setembro, 2024
Preço: R$ 73,38
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Serenity Forge.
Revisão: Lucas Barreto
Se fôssemos traduzir o ditado “Não julgue um livro pela capa” para o universo dos jogos digitais, provavelmente seria algo como “Não julgue um jogo pelo visual”. Mas vamos ser sinceros, assim como é difícil ignorar um livro com uma capa sensacional, é difícil não se encantar ao ver o trailer de um jogo que já captura sua atenção pelo estilo.
Foi o caso de Keylocker comigo. Minha primeira impressão foi super positiva, um RPG de turno com estética futurista cyberpunk executada em um pixel art super caprichado, me interessando logo de cara. A situação ficou ainda mais atrativa quando soube que o game é um trabalho da desenvolvedora brasileira Moonana, que desenvolveu o RPG Virgo Versus the Zodiac de 2019, que também tem uma estética bastante atraente.
Sem pensar muito, decidi que este é um jogo que eu gostaria de fazer Review para jogar e falar sobre. Fui surpreendido com uma experiência muito mais densa do que se espera de um jogo desenvolvido por praticamente uma pessoa, provando que, muitas vezes, julgar um livro pela capa não é algo tão ruim assim.
Mas calma que nem tudo é perfeito e infelizmente Keylocker tem uma pequena e enjoada pedra no seu sapato, mas você vai ter que ler um pouquinho mais desse texto para descobrir o que é.
Criação de universo de qualidade
Primeiramente, acho que vale a pergunta: a estética Cyberpunk já está batida? Eu confesso que, honestamente, não sei a resposta, porque na realidade consumi pouco material da cultura pop que siga essa linha. Sei que temos casos recentes e famosos no mundo dos games, como o Cyberpunk 2077 ou o fofinho Stray. De todo modo, saiba que independente da sua pré-concepção desse estilo, Keylocker é um jogo que exala estilo e personalidade no mundo que apresenta ao jogador.
Moonana parece ter preenchido jogo desde os mínimos detalhes, com muitas informações sobre esse universo e, claro, dos seus personagens. Não só os cenários são bacanas de explorar e visitar, como as clássicas cidades futuristas, mas cada personagem tem um design interessante ou inusitado, mesmo NPCs que você encontra uma ou duas vezes no jogo parecem ter recebido uma atenção especial nos seus retratos em pixel art que aparecem durante os diálogos.
A história de Keylocker se passa num futuro bem, bem distante, onde a raça humana já extinta foi substituída por uma nova população de doppelgangers, que basicamente são androides criados para substituir a raça humana, ou seja, com pensamentos e sentimentos próprios.
Não vou cair na cilada de tentar detalhar muito mais desse universo por aqui porque, sendo sincero, provavelmente vou cometer alguns erros. Logo de início o jogo foi soltando conceitos nos diálogos e eu fiquei completamente perdido, porém, lá na frente, conforme algumas coisas foram ficando claras por conta do contexto ou explicação dos próprios personagens, fui entendendo as especificidades e nuances da história, e achei isso sensacional. Não é fácil escrever uma história que flui organicamente, com facilidade, mas é o caso aqui em Keylocker. Por mais que o jogador se sinta meio deslocado no início, o pouco de contexto vai fazendo com que você se interesse e queira saber cada vez mais daquele mundo, sendo recompensado com novas informações ao longo da aventura.
É o tipo de jogo que, apesar da grande quantidade de diálogos, você não se sente entediado em ter que ler tudo aquilo. Os personagens demonstram uma personalidade muito clara e isso faz com que as linhas de texto sejam genuinamente interessantes, diferente daqueles típicos casos em jogos de diálogos sem vida apenas para levar o jogador do ponto A até o ponto B.
Recompensa e Desafio
Para quem é fã de jogos de turnos, não temos muita novidade aqui no gameplay. Você explora cenários com uma visão que dá a sensação de ser muito isométrica, bem parecido com Earthbound nesse quesito. Onde o game brilha de fato é quando começa o combate. Aqui temos um sistema muito focado em timing, semelhante aos jogos como Mario RPG ou Paper Mario, sendo necessário apertar o botão no momento certo para atacar ou defender.
Mas veja, se você jogou os RPGs do Mario, você sabe que o timing é relativamente simples, é um plus para dar mais dano ou receber menos. Já em Keylocker, o timing é absolutamente essencial. Nos primeiros momentos de jogo eu fui completamente humilhado, bastava errar o tempo certo de apertar o botão umas duas vezes para ser derrotado e reiniciar a batalha (por sorte o game não te leva para tela de game over e lhe dá a oportunidade de reiniciar a batalha imediatamente).
Em resumo, minha primeira hora foi bem frustrante, não vou negar. O espaço de tempo para apertar o botão é super apertado e a indicação é super discreta, com o personagem piscando na cor branca. Eventualmente eu peguei o jeito da coisa e aí sim o jogo começou a ficar muito mais satisfatório, comecei a entender o funcionamento da classe de cada uma dos meus personagens e planejar o uso de ataques de acordo, calculando muito bem como gastar meus pontos de vida e meus pontos de energia para os ataques.
Não é que o jogo tenha ficado fácil do nada, porque não ficou, continuou bem complicado, mas toda vez que eu acertava o timing em um momento complicado era uma sensação recompensadora. Vale notar que joguei na dificuldade normal, provavelmente você pode sofrer muito mais do que eu sofri se gosta de um desafio.
Um Jogo Revolucionário
Mais do que apenas um jogo estiloso com a estética Cyberpunk, Keylocker é um jogo revolucionário, no sentido de contar a história de uma revolução, sendo um dos pontos mais fortes do jogo. Por conta de um ponto de vista forte e bem decidido de quem está por trás dos cenários e dos personagens, o game evoca frases e imagens de histórias tipicamente revolucionárias, se retirando de uma narrativa neutra ou rasa que poderia ser bem mais confortável para um jogo menos ambicioso.
Falando do meu gosto pessoal, costumo a gostar mais de histórias em que o grupo de protagonistas precisa destruir o status quo ao invés de lutar para mantê-lo. Obviamente isso não é garantia de uma boa história, mas com o papel de imersão proposto pela mídia dos games, a força, a revolta, o ódio e a energia envolvidos em uma revolução acabam criando uma experiência cheia de engajamento.
Matar um chefão qualquer feioso pode até ser satisfatório, mas matar os líderes de um sistema opressor que subjuga toda uma população acaba sendo muito mais, não é? E acho que o jogo trabalha bem isso, não só caracterizando bem os vilões, mas também fazendo com que as batalhas contra eles sejam mais complicadas.
Outra temática forte do jogo é a música. Há uma espécie de lei no universo em que o jogo se passa onde música é proibida. A personagem, que é vocalista e guitarrista de uma banda, acaba sendo o contraponto perfeito contra o grupo de poderosos. A produção de música “gera” energia, essencial para a vida desses personagens, então é vital para o governo controlar a música para controlar a população.
Variedade Bem Vinda
Acho a duração de Keylocker o ideal para um RPG nesse estilo, ficando ali na faixa das 20 horas de jogo, mas mais importante do que isso, é a variedade de coisas que você vai fazer nesse tempo.
Além das batalhas que já funcionam muito bem, tomei um susto quando do nada o jogo vira uma espécie de Guitar Hero, durante os shows da banda principal. É exatamente o mesmo sistema, você precisa acertar o timing dos discos que vão descendo na tela. A diferença é que invés de tocar clássicos do rock, você toca algumas músicas originais do jogo e até que elas são bem interessantes, ainda que nenhuma tenha particularmente capturado meu interesse ao ponto de eu querer ouvir a música várias e várias vezes.
Em outro momento, os personagens precisam “abrir” um baú para libertar a alma e a melodia que habita naquele objeto. Poderia ser só uma animação ou simples puzzle para abrir essas caixas, porém o jogador é presenteado com um minigame divertido onde você controla o robôzinho Rocket com uma espada de curto alcance e precisa ir derrotando os inimigos enquanto desvia dos seus ataques, no clássico estilo bullet hell.
Somando esses trechos com a variedade de comandos de timing durante as batalhas, o jogo se torna muito mais dinâmico que um RPG de turno comum. Me lembrou um pouco algo como Undertale, em que apesar do jogo se espelhar em clássicos JRPGs de turno, não se contenta em só repetir o que já existe e tenta adicionar um tempero a mais no gameplay.
Tropeços Técnicos
Tenho que citar o maior problema de Keylocker porque é algo que de fato afetou minha experiência, por mais que não tenha nada ver com as escolhas artísticas ou de design do jogo.
Infelizmente, ao menos na versão que joguei no Nintendo Switch, o jogo sofre slowdown em diversos trechos específicos, especialmente em batalhas quando o cenário é recheado de NPCs ou detalhes mais complexos. Eu poderia ignorar isso tranquilamente em diversos jogos, mas aqui afetou consideravelmente minha experiência porque o meu desempenho nas batalhas é dependente de apertar o botão no ritmo certo e, bem, quando o jogo roda em uma taxa de frames tão variável, você fica sem referencial para saber a hora certa de se defender e atacar.
Joguei o game com a atualização de lançamento e pelo que notei ainda não resolveu o problema, e não acho que será algo tão simples de resolver levando em conta que é um time muito pequeno por trás do game, e fazer o port para diferentes consoles é sempre mais complicado.
Não estragou minha experiência, mas acho válido notar aqui no texto para que você fique ciente caso decida adentrar esta aventura.
Ah, antes que eu esqueça um detalhe, o jogo está todo em apenas uma língua: inglês. É, eu sei, é de uma desenvolvedora brasileira, tornando-se um elemento um tanto frustrante, mas entendo que é um jogo de muito texto e para alcançar o maior público possível foi provavelmente escrito desde o início já em inglês.
Atualização: de acordo com a desenvolvedora o jogo ainda receberá atualização para PT-BR! Quem tiver interesse pode ficar no aguardo.
Vai Fundo
Keylocker é o tipo de experiência “artesanal” que gosto bastante no mundo dos games, recheado de conteúdo e muita personalidade. É o tipo de produto em que você consegue claramente ver o artista por trás se expressando em cada linha de diálogo ou mesmo nas mecânicas de jogo.
Acho que consegui colocar quase tudo que o jogo me fez sentir aqui no texto, e a facilidade que senti de escrever tanta coisa prova como o jogo realmente é denso e interessante. Apesar dos problemas técnicos, é um belo exemplar para a extensa biblioteca de RPGs de turno no Nintendo Switch e caso você, assim como eu, tenha se interessado pela estética, vá fundo e se surpreenda com a experiência.
Pros:
- Belíssima estética Cyberpunk;
- Sistema de combate original e desafiante;
- Narrativa revolucionária;
- Personagens cativantes.
Contras:
- Problemas técnicos de lentidão;
- Ausência de PT-BR.
Notal Final
8
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