Desenvolvedora: Funky Can Creative
Publicadora: Funky Can Creative
Gênero: Shoot ‘em up, musical
Data de lançamento: 09 de Outubro, 2024
Preço: R$ 84,10
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Funky Can Creative.
Revisão: Paulo Cézar
PopSlinger está de volta, dessa vez prometendo mais ação, mais garotas mágicas e ainda mais ritmo. Quando joguei o primeiro título, lá em 2022, fui surpreendido por um projeto cheio de paixão e genuinamente interessado, rendendo-me uma boa experiência apesar do aspecto um pouco cru, comum a projetos de primeira viagem. Dando tempo a um novo projeto? A sequência com certeza podia apenas ser ainda melhor, não?
Leia também:
Um passo para frente, três ou quatro para trás, o volume 2, Loveless, coloca-nos de volta nesse mundo meio onírico onde companions virtuais acompanham garotas mágicas servidas de armas com base de latas de refrigerante e cafeteiras, tudo regido pelo ritmo Funky da trilha sonora que pauta as sequências de combate. É tudo muito direto ao ponto, e até em demasiado; não espere um recap ou uma introdução porque, tal como um daqueles sonhos incômodos, ao fim teremos o desconforto de um despertar um tanto desnorteado.
Hora do Pop!
Devo confessar, ainda estou tentando compreender a linha narrativa aqui apresentada. Quero dizer, aqui encontramos personagens do título anterior, como a Akane, que de boss vai a companion da nova protagonista, Cooper, e a própria Ria, que de protagonista vai a prisioneira que precisa ser resgatada por Cooper, esse misto de agente secreto com millenial mal humorada. Contudo, sem um recap, somos jogados de para-quedas nesse mundo vaporware, sem entender muito bem a ligação com o primeiro jogo.
De toda forma, Cooper parece ter sido levada a essa cidade púrpura por sonhos que indicavam a prisão de Ria, e ao chegar ela logo se depara com uma richa entre três irmãs que está colocando a cidade em risco. Nossa missão logo se transfere: agora precisamos encontrar cada irmã, vencê-las em combate e reunir informações a respeito do cativeiro.
Colocada dessa forma, a narrativa parece bem direta ao ponto, mas não consigo ilustrar o quão confuso é o desenrolar das situações. Cada cenário abre e fecha com diálogos engraçadinhos, bem similar ao primeiro jogo, buscando, e digo sem ironia e até como um elogio, uma interação despretensiosa dos tempos áureos de Twitter, com um carinho sincero em cima dos OCs de um artista buscando espaço em um algoritmo aterrorizador. Bem verdade, acredito que por esta razão gosto tanto do primeiro jogo: há um sentimento de descoberta ao se deparar com uma arte tão vibrante, mescla dos verões das décadas de 90 e 80 com animes antigos, um sentimento compartilhado pela América Latina e que a rede proporcionava.
Pode ser um pouco injusto, mas rever a experiência sem nenhuma alteração na fórmula, em um momento em que as experiências digitais estão passando por transformações profundas, especialmente por conta da nova administração do Twitter, a minha percepção, e não há problemas em admitir esse valor subjetivo, passa a ser mais cínica. As interações vão de genuínas para artificiais, quase beirando o humor “Marvel”. As personagens basicamente interagem apenas por roasts, e nos momentos de revelações ou discursos motivacionais as falas não emplacam.
A isso, soma-se mais dois elementos. Primeiro, apesar do trabalho bem feitos das VAs, nota-se que a captação de áudio foi feita de forma amadora, com umas entonações estranhas. Reitero que o primeiro título também foi feita da mesma forma, mas parece haver uma dissonância entre filtro de voz e vídeo, já que o jogo busca captar a experiência do VHS. Em segundo, a mixagem de som não atingiu o ponto ideal em que podemos mergulhar de cabeça na soundtrack. Bem, sobre isso vamos abordar junto com a gameplay.
Sintonia Assíncrona
PopSlinger tem um loop de gameplay bem direto ao ponto. Temos uma arma, um corredor tridimensional e inimigos com diversas cores. Acertando, em sequência, quatro cores iguais, desbloqueamos uma habilidade especial. Acertando outra sequência, acumulamos pontos para o ult. Acerte as sequências e consiga a pontuação máxima, ou apenas passe a fase atirando contra tudo e contra todos e fique com a pontuação ruim.
O primeiro jogo introduz dois elementos para estimular buscarmos as sequências: o mais evidente é que não podemos entrar na última fase sem ter uma pontuação mínima em todas as fases. Esse, sinceramente, é o elemento que mais critico do antecessor de Loveless, e fico feliz que essa abordagem tenha sido removida aqui. O segundo, que ainda se mantém, é que temos uma pontuação final quando alcançamos os créditos, estimulando rejogabilidade. Quando ter scores altos é uma necessidade, qualquer elemento de frustração em relação ao loop é intensificado, mas mesmo quando a necessidade é removida ainda é bem frustrante não conseguir os combos por problemas técnicos, e aqui entra problemas mais graves que tive no jogo.
Primeiro, temos uma variação bem maior de inimigos em relação ao primeiro jogo, o que é ótimo, mas resultando em bugs de overlaps de personagens que tornam impossíveis alcançar os combos desejados. Perdi as contas de quantas vezes tive a sequência interrompida porque um coelho vermelho surgiu magicamente dentro de um azul, e assim por diante. Soma-se à isso o fato de que o jogo não resolver o problema das armas do primeiro jogo: a cada fase, conseguimos um novo item no nosso arsenal, facilitando a gameplay e tornando a experiência mais divertida. O problema é que todas as armas desbloqueáveis dão dano em área, sempre quebrando combos porque algum inimigo fora da tela é pego no raio de destruição. Por último, alguns summons são instantâneos e pegam o player desprevenido, não apenas causando dano ao player mas também fazendo o inimigo desaparecer da tela, impossibilitando o combo já que o spawn de inimigos é calculado para termos um número certo de combos possíveis.
Ainda posso falar dos desagradáveis inimigos que mudam de cor, forçando-nos a esperar ciclos grandes para continuarmos a fase (isso quando o inimigo não muda de cor assim que o impacto é registrado), dos bugs encontrados em que a cor não era registrada no combo, das skills de Akana que perdem o propósito porque também dão dano em área e, consequentemente, interrompem o combo e da tela de score que não parece fazer muito sentido (em certa fase, fiz a maioria dos combos e matei a boss relativamente rápida, recebendo um D, mas em outra, quando não fui tão bem e ainda morri para a boss na primeira tentativa, recebi um S). Ufa, parágrafo longo, sinto muito.
Quanto às bosses no fim das fases, não tenho muito o que dizer. Cada uma representa uma personalidade de cada irmã e as fases finais apresentam remixes, o que é um pouco frustrante já que o jogo tem apenas cinco fases com boss (há uma sexta fase de tutorial). Acredito que o maior problema das bosses é que há muito diálogo em cima do mapa, ocupando espaço, e as vozes não nos deixam escutar as músicas. Falando nisso, vamos voltar ao ponto da mixagem que abordei anteriormente no texto?
Sem sombra de dúvidas, o melhor de PopSlinger é a trilha sonora. As composições Future Funky são genuinamente boas, e escuto a OST do primeiro no dia-a-dia, ao fazer exercícios e afins. A soundtrack de Loveless não chega a ser tão boa quanto a de seu antecessor, mas mesmo se fosse melhor o jogo não nos deixa apreciar as trilhas. Há tanto ruído com tiros, vozes, sons de sapato efeitos especiais que não é possível escutar a OST, que está muito baixa para podermos aproveitar. Tenho certeza que caso estivesse escutando a música teria conseguido passar batido por vários pontos negativos, porque o pacote se tornaria encantador, mas não consegui dessa vez.
Por mais PopSlingers
Não busco, com esse texto, depreciar o encanto ao redor da série. Estou retratando, de forma mais justa que consigo, uma experiência pessoal que, apesar e negativa, ainda me faz querer mais da série. Não há nada mais mágico que ver criações tomando vida, principalmente de produtores independentes, e deslizes fazem parte da curva de aprendizado para artistas alcançarem patamares cada vez mais elevados.
Dito isso, mesmo que a presente review tenha causado uma impressão negativa ao leitor, não deixe de apoiar os criadores da série. A OST de ambos os jogos está disponível no Spotify, e tenho certeza que ela sozinha pode fazer valer à pena conhecer a franquia. Por hora, desejo que o próximo título dê apenas passos para a frente.
Prós
- A OST continua boa;
- Certas interações entre personagens são carismáticas e engraçadas.
Contras
- Level design claustrofóbico;
- Sequência de combos é frustrante por detalhes técnicos;
- Mixagem de som e captação de áudio não são bem reguladas;
- Detalhes de narrativa são jogados sem contexto.
Nota
5,5
- Review | Shin chan: Shiro and the Coal Town - 06/11/2024
- Especial de Halloween: Nintendo e suas experiências macabras - 31/10/2024
- Review | PopSlinger Vol. 2: Loveless - 17/10/2024