
Desenvolvedora: Interactive Studios (original), Piko Interactive
Publicadora: QUByte Interactive
Gênero: Plataforma 3D
Data de lançamento: 27 de fevereiro de 2025
Preço: R$ 59,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela QUByte Interactive.
Revisão: Davi Dumont Farace
O final dos anos 90 foi uma boa época para jogos de plataforma. Com a chegada dos consoles 3D, como o Nintendo 64 e o PS1, grandes clássicos como Super Mario 64, Crash Bandicoot e Banjo-Kazooie foram criados e marcaram uma era, incentivando diversos outros desenvolvedores a seguirem seus passos e tentarem criar suas próprias versões de um gênero que, na época, acabou ficando um pouco saturado. Em meio a tantos jogos parecidos, aqueles que tentavam se diferenciar com ideias novas e criativas acabavam se destacando, e um deles foi Glover.
Glover não é exatamente um sucesso estrondoso nem um nome de peso, mas sua criatividade ao se diferenciar dos jogos do gênero foi o suficiente para transformá-lo em uma espécie de clássico cult, com um retorno do personagem gerando um interesse considerável. Coube então à QUbyte trazer a famosa luva de volta com um remaster de seu jogo original de Nintendo 64.
Mas quão bem-feito ficou o trabalho? O suficiente para acender o interesse por uma sequência, talvez? Bem… é um pouco mais complexo do que isso. Vamos por partes.
Salve o Reino Cristal!
Há muito tempo atrás, um mago vivia no castelo do Reino Cristal, que era mantido por sete cristais mágicos que agiam como portais para outros mundos. Um dia, enquanto fazia experimentos, o mago acidentalmente se transformou em pedra, e suas duas luvas saíram de suas mãos. Enquanto a luva direita, chamada Glover, caiu para fora do castelo, a luva esquerda, Glovel, caiu num caldeirão mágico que a transformou em um ser maligno chamado Cross-Stich, que criou uma explosão para destruir os cristais que mantinham o reino. Antes que a explosão pudesse destruir os cristais, Glover usou sua magia para transformá-los em bolas, que saíram quicando pelos portais, indo parar em outros mundos. Agora, é missão de Glover recuperar os cristais, derrotar Cross-Stich e fazer o reino retornar à sua versão pacífica.

Eu sei, nada complexo. Mas não precisava ser: a proposta de Glover não é exatamente contar uma história… tanto que, tirando a cutscene inicial, o jogo não tem mais nenhuma outra! É puro gameplay do começo ao fim. No entanto, ele faz algumas coisas interessantes com o que foi estabelecido, por exemplo: no começo do jogo, o Reino Cristal tem uma fumaça vermelha, deixando o clima do lugar bem sinistro e “assustador”.
Mas, conforme você vai avançando no jogo e recuperando os cristais, a fumaça vai desaparecendo, a grama vai ficando mais verde e, eventualmente, o reino volta à sua aparência original. É o tipo de storytelling simples, mas que faz você sentir que realmente está progredindo e salvando aquele mundo.

Desafio, paciência e diversão!
Aqui, você vai controlar Glover, que, como já mencionado, é uma luva que ganhou vida durante o acidente. Seu objetivo é bem simples: pegar o cristal, que foi transformado em bola, e levá-lo até o fim da fase. A jogabilidade é totalmente baseada na física de rolar a bola: você pode bater nela no chão para fazê-la quicar (servindo como uma espécie de pulo), pode pegá-la e jogá-la para longe, e até transformá-la em outros tipos de bolas, como uma de boliche, que é mais pesada e pode ser usada para destruir paredes ou outros objetos; ou uma bolinha de metal, que é mais rápida, mas tem um peso adicional. Você também pode largar a bola e controlar Glover sozinho, o que faz com que ele se movimente mais como um personagem de plataforma 3D tradicional, onde o jogador pode pular, dar um “soco” no chão que funciona como o “Ground Pound” de Super Mario 64, empurrar paredes, etc.

O jogo usa essa dinâmica de controlar Glover com ou sem a bola para criar desafios e puzzles bem interessantes. Às vezes, você vai precisar largar a bola em algum canto para realizar uma ação com Glover para liberar o caminho, e só então poderá avançar de verdade. É bem simples, as coisas nunca ficam complexas demais, mas ainda assim é bem divertido e fascinante! Manusear Glover com a bola começa um pouco desengonçado e difícil, mas, conforme você se acostuma com os controles e vai ficando mais confiante, a parte de “plataforming” vai se tornando bem mais gostosa. É um jogo que exige muita paciência para aprender todas as nuances da movimentação, e que, no fim, acaba valendo a pena apenas pela diversão.

Um ponto negativo que encontrei são os chefes, que costumam ser bem “8 ou 80”: ou são fáceis demais e morrem em questão de segundos, ou são difíceis e obtusos demais de se derrotar. Me vi bem perdido em algumas lutas, com a do Frankenstein sendo provavelmente uma das piores batalhas que já enfrentei em um jogo de plataforma em toda a minha vida.
Os problemas de um port ruim.
Eu considero Glover um dos jogos de Nintendo 64 que envelheceu bem. Apesar das texturas de baixa qualidade e das limitações do N64, ele é um jogo bem colorido e com um estilo de arte agradável de se olhar até hoje, rodando a sólidos 30 frames por segundo na máquina de 64 bits da Nintendo.
E é por isso que eu acho o trabalho feito para portar esses visuais para o Nintendo Switch tão decepcionante. Quase 20 anos depois, num port nativo feito com o código-fonte do jogo original, a QUbyte infelizmente falha em replicar os visuais originais de forma convincente. Além de rodar a 20 frames por segundo, o que por si só já seria uma desvantagem em relação ao N64, que rodava a 30, o jogo é notavelmente MAIS feio do que era antes.

Erros gráficos estão presentes por toda parte, desde o início do jogo: a iluminação é diferente e mais escura, deixando toda a experiência menos colorida e “mágica”, erros de textura básicos estão por todo lado e são BEM notáveis. Por algum motivo, você consegue ver os polígonos de alguns objetos, algo que não acontecia no original de N64… É uma bagunça, e, comparando lado a lado com a versão de 64, fica bem óbvio o quão ruim o trabalho de port realmente foi.

É uma pena, um desserviço para o jogo original, que acaba colocando a versão de N64 em AMPLA vantagem em comparação com o remaster, que é mais feio e roda com uma performance PIOR, mesmo sendo lançado mais de 20 anos depois em um hardware muito mais poderoso. Eu não sei dizer exatamente o que aconteceu na produção do game para resultar no produto que nós recebemos, mas é difícil de acreditar que o Nintendo Switch não conseguiria rodar um jogo de Nintendo 64 com perfeição.
Um jogo encantador… que decepciona no Switch
Glover é uma experiência bem única: é uma ideia de plataformer bem genial, que resultou num jogo que, enquanto não é uma obra-prima, é super divertido e diferente de qualquer outra coisa que o gênero tem a oferecer. Mas infelizmente o trabalho de remaster feito para o Nintendo Switch deixa a desejar e fica um pouco difícil de recomendar essa versão ao invés da de Nintendo 64. Talvez esses problemas sejam resolvidos por meio de atualizações, mas da forma que foi lançado, o remaster de Glover apresenta problemas técnicos demais para poder ser recomendado com firmeza, apesar de ser um bom jogo.
Prós:
- Glover é um bom jogo;
- Level design único;
- Controles satisfatórios de se aprender;
- História simples, mas que cumpre seu papel.
Contras:
- Trabalho de remaster é decepcionante;
- Remaster roda a 20fps. Original rodava a 30;
- Erros gráficos não presentes no original são comuns;
- Pior que a versão de N64.
Nota
5
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