
Desenvolvedora: Konami, Digital Eclipse
Publicadora: Konami
Gênero: Simulação, RPG, Coletânea
Data de lançamento: 27 de fevereiro de 2025
Preço: R$ 199,95
Formato: Digital e Físico
Análise feita no Switch com cópia fornecida gentilmente pela Konami.
Revisão: Manuela Feitosa
Yu-Gi-Oh! Early Days Collection é a mais nova coletânea de jogos clássicos que a Konami desenvolveu em busca de trazer experiências clássicas de uma de suas franquias para um novo grupo de jogadores. Dessa vez, a desenvolvedora decidiu resgatar o passado da franquia nos portatéis, trazendo um pacote com títulos que servem como um lembrete do começo estranho de uma das franquias mais famosas do mundo.
O passado esquecido de Yu-Gi-Oh!
Yu-Gi-Oh! teve seu início como um mangá escrito por Kazuki Takahashi, onde o protagonista Yugi participava de diferentes jogos a cada novo capítulo. Um desses jogos foi um jogo de cartas que acabou se tornando um grande sucesso com os leitores, o que fez com que Takahashi mudasse o foco da narrativa de seu mangá para o card game.
O sucesso do card game fez com que a Konami se interessasse pela IP, adquirindo seus direitos para a produção de jogos e outras mercadorias. Portanto, por ter sido um sucesso inesperado, Takahashi não tinha ainda criado regras definidas para o card game, resultando na Konami ajudando-o a desenvolver o jogo para um formato que fosse interessante e divertido.

Antes de simuladores ou do formato que conhecemos de Yu-Gi-Oh!, a Konami produziu títulos que buscavam moldar o card game para um estilo funcional. A primeira leva de títulos foi conhecida por ter regras malucas que iam se moldando conforme novos jogos eram lançados e um entendimento maior sobre card games foi se formando. Pode-se dizer que os títulos dessa coletânea são uma parte importante da história sobre como o cardgame de Yu-Gi-Oh! foi se tornando o jogo que o conhecemos nos dias atuais.
Early Days Collections pode ser divididas em duas partes: Os jogos que focam no cardgame, e os spin-offs. Com 14 jogos lançados originalmente na família Game Boy, o pacote permite que os jogadores se imersem na história do jogo de cartas enquanto exploram outras possibilidades que a franquia poderia ter seguido.
Duel Monsters: O início bizarro do TCG virtual

O principal foco da coletânea, e que até poderia ser o nome oficial da mesma se não fossem os spin-offs, são os jogos da saga Duel Monsters. Desenvolvidos pela Konami entre 1998 e 2003, esses títulos foram os primeiros a trazer as cartas para o mundo virtual.
O primeiro jogo da saga, lançado para o Game Boy original, era o segundo título baseado na IP, mas o primeiro realmente focado nas cartas. Na época de seu lançamento, o mangá estava no arco Duelist Kingdom, com regras inspiradas em jogos de tabuleiros que seriam difíceis de implementar em um jogo portátil. Por isso, a Konami decidiu usar como base a primeira versão das regras que Kazuki havia criado quando o cardgame apareceu pela primeira vez em seu mangá. Havia apenas dois tipos de cartas, monstros e feitiços, e os jogadores só podiam utilizar uma carta por turno. Além disso, não era necessário pagar tributo para invocar monstros fortes.
Essas regras se tornaram a base da saga, com jogos subsequentes introduzindo mecânicas e conceitos adicionais. No segundo jogo tivemos a introdução de fusões, tributos e deck cost, enquanto o terceiro e quarto introduziram mecânicas como monstros com efeito e cartas especiais.

A única exceção são o quinto e sexto jogos da saga, que utilizam as chamadas regras Expert, que simula o formato do TCG. Lançados para o GBA, Eternal Duelist Soul, Duel Monsters 5 Expert no Japão, e WorldWide Edition, uma versão atualizada e modificada de Duel Monsters 6 Expert 2, são os únicos jogos da saga que seguem o estilo normal da franquia, com ambos servindo de base para outros jogos futuros, como a duologia World Championship que aparece no pacote.
As regras da saga Duel Monsters também serviram como base para um outro jogo mais famoso de Yu-Gi-Oh! nos anos 90, o querido Forbidden Memories de PS1. FM utiliza uma versão modificada das regras de Duel Monsters 2, removendo tributos e o sistema de alinhamentos dos elementos, onde certos elementos tem vantagens sobre outros. Kuriboh, por exemplo, mesmo sendo uma carta fraca, pode destruir o poderoso Dragão Branco de Olhos Azuis, por ser de um elemento superior. Já Duel Monsters 3 reutiliza alguns elementos de Forbidden Memories, incluindo a música e certos oponentes.

Os cinco primeiros jogos da saga seguem um certo padrão. Nele, temos três estágios diferentes com personagens do anime como oponentes, sendo necessário vencer cinco partidas contra todos os oponentes de um estágio para avançar para o próximo até o estágio final, onde duelamos cinco vezes com o oponente final para os créditos. É um processo extremamente repetitivo e entediante de início quando a AI é fraca e usa decks simples.
Duel Monsters 6 remove esse sistema, nos colocando em um mapa onde precisamos encontrar oponentes aleatoriamente. Temos um sistema de dias, com eventos especiais ocorrendo em certos dias, e após completar certos objetivos, uma série de duelos contra o vilão Marik e seus Rare Hunters se abre, servindo como o “desafio final” do jogo.

A maior mudança é em relação á Duel Monsters 7 e Duel Monsters 8, também conhecidos como The Sacred Cards e Reshef of Destruction. Ambos os títulos são um JRPG com o formato de gameplay da saga Duel Monsters. The Sacred Cards coloca os jogadores no papel de um novo personagem que participa do arco Battle City, alterando eventos para que o protagonista esteja presente nos principais. Já o Reshef of Destruction é uma nova história que ocorre após o final de The Sacred Cards e envolve o sumiço das relíquias do Milênio e o renascimento de um novo vilão, Reshef.
O último jogo também é conhecido como o mais difícil da série clássica, oferecendo um grande desafio até mesmo a veteranos de Yu-Gi-Oh!. Apesar de seguir o mesmo formato, cada título da saga Duel Monsters possui suas peculiaridades e jogar os jogos em ordem é uma ótima forma de apreciar a evolução e mudanças que a Konami trazia para o cardgame, até atingirmos o formato atual do jogo.
Experimentando novos caminhos

Tirando os dois jogos World Championship, que eram evoluções do formato expert e serviam como o simulador oficial da Konami no GBA, os outros títulos do pacote são todos spin-offs da série. Curiosamente, dois desses spin-offs são baseados em outros jogos que apareceram no mangá da série e que a Konami estava tentando usar como uma forma de expandir a franquia para outros formatos que poderiam render dinheiro adicional através de merchandising.
O primeiro é Yu-Gi-Oh! Monster Capsule GB lançado em 2000 para o Game Boy Color. O título é o segundo baseado em Capsule Monster, um dos muitos jogos que apareceram no mangá de Yu-Gi-Oh! antes do sucesso do cardgame. Capsule Monster também foi um dos principais games a aparecer no primeiro anime da série, além de ter servido como base para o primeiro título da franquia a ser lançado, Yu-Gi-Oh! Monster Capsule: Breed and Battle de PS1.

O título de Game Boy é uma nova aventura que segue após os eventos iniciais do mangá e seu arco Death-T. Após Yugi derrotar Kaiba e destruir sua mente para se livrar do mal em seu coração, o rival envia um convite para Yugi e seus amigos visitarem seu parque de diversão. Ao chegar no local, Kaiba transforma os amigos de Yugi em bonecos e o desafia a subir sua nova torre de duelo e enfrentar os mestres do locais afim de resgatar seus amigos.
A jogabilidade de Monster Capsule GB é bem simples, funcionando como um RPG de estratégia. Jogadores podem adquirir novos monstros e usá-los durante os combates, aumentando seus níveis através de duelos ou usando cápsulas especiais para melhorar seus atributos. A parte mais curiosa é sua apresentação, baseada no anime criado pela Toei e conhecido como Season 0, com personagens utilizando os visuais do mesmo, incluindo Seto Kaiba com cabelo verde.

O próximo spin-off também é baseado em outro jogo que apareceu no mangá, só que desta vez, este jogo apareceu quando o cardgame já era o foco principal. Yu Gi Oh! Dungeon Dice Monsters foi lançado em 2001 no Japão para o Game Boy Advance, sendo o primeiro título da série no portátil. Ele é baseado em Dungeon Dice Monsters, um game onde um personagem desafia Yugi e utiliza alguns elementos de jogos de tabuleiros e das cartas.
O título usa uma jogabilidade similar a um título de estratégia, com o jogador usando dados com monstros para atacar seu oponente. Recriando as regras e jogabilidades que foram mostradas no mangá, o jogo tem ideias bem bacanas, como o jogador criando seu próprio caminho até o oponente, mas ele tem sérios problemas, com a inteligência artificial sendo bem ruim. O mais estranho deste game é que apesar de Dungeon Dice Monsters ter aparecido na parte em que o card ame era o foco, o título utiliza personagens das sagas iniciais do mangá, pegando aqueles que não conhecem o material original de surpresa.

O último spin-off no pacote é Yu-Gi-Oh! Destiny Board Traveler, lançado em 2003 para o GBA. Diferente dos últimos jogos, este spin-off é totalmente novo, misturando as cartas com um tabuleiro. Usando personagens da parte mais famosa do mangá, o jogo é bem simples e um pouco entendiante, com algumas regras um pouco confusas e uma inteligência artificial bagunçada.
O mais curioso de todos os três spin-offs é como eles misturam elementos das cartas com jogos de tabuleiro e dados. Isso é por conta do amor a este tipo de jogo que Takahashi possuia. A Konami tentou fazer com que ambos Monster Capsule and Dungeon Dice Monsters se tornassem um sucesso e expandisse as possibilidades de merchandise da série, porém infelizmente, isso não ocorreu, tornando-os uma parte curiosa da história da franquia.
Um pacote para as eras

Yu-Gi-Oh! Early Days Collection continua a entregar experiências clássicas de franquias da Konami em um pacote com algumas adições que o fazem ser mais do que apenas uma simples emulação. A principal adição é que todos os jogos do pacote estão traduzidos em inglês, incluindo aqueles que antes estavam disponíveis apenas em Japonês, que no caso são os primeiros títulos para Game Boy e Game Boy Color.
Outra adição importante de se mencionar é a inclusão de todas as diferentes versões dos jogos incluídos no pacote, significando que temos versões em japonês, inglês e europeia dos títulos. Enquanto na maior parte dos jogos isso significa apenas pequenas mudanças, em outros casos, como nos dois Duel Monsters Expert, significa que podemos experimentar as diferentes versões com suas mudanças únicas para cada região. Por exemplo, Duel Monsters 5 Expert é bem diferente de sua versão ocidental Eternal Duelist Soul em termos de apresentação, com a versão ocidental se baseando muito mais em Duel Monsters 6 Expert 2. O mesmo vale para sua sequência, cuja edição ocidental, WorldWide Edition, possui mudanças significativas na sua lista de cartas que fizeram ela ser relançada no Japão como Duel Monsters International.
Adições extras incluem opções de exibição de imagem, uma função rewind que pode ser um pouco estranha de se utilizar de início e a opção de utilizar “melhorias” nos títulos que funcionam como cheats para tornar a experiência mais agradável, como desbloquear todas as cartas de início ou personagens secretos. Duel Monsters 4 também possui opção para duelos online, com a opção chegando aos outros títulos no futuro, segundo a Konami.
Lembrando o passado para se preparar para o futuro

Yu-Gi-Oh! Early Days Collection é um pacote bem legal e que continua o bom trabalho da Konami em distribuir seus clássicos a uma nova geração. A coletânea permite que novos fãs possam conhecer um pouco da história da franquia e conferir de perto o quanto a desenvolvedora foi influente para moldar um dos jogos de cartas mais famosos do mundo, sendo esta a melhor forma de aproveitar tais jogos.
Infelizmente, o preço pedido pelo que é oferecido é muito alto. Apesar de serem uma parte curiosa e importante do histórico da franquia, os primeiros jogos de Game Boy são bastante repetitivos. Para um pacote que diz reunir os primeiros títulos da série, alguns jogos mais memoráveis da era, como Forbidden Memories e Duelist of the Roses, também estão em falta. Vale torcer para que esta seja apenas a primeira coletânea da série e que esses jogos sejam relançados em um novo pacote.
Pros:
- Coletânea serve como um importante lembrete do início da franquia no mundo virtual;
- Boas adições que permitem que os títulos sejam aproveitados de maneiras diferentes;
- Alguns jogos como WorldWide: Edition são a forma ideal para experimentar o formato inicial de Yu-Gi-Oh!;
- Spin-offs e títulos como Sacred Cards oferecem maneiras diferentes de aproveitar a IP.
Contras:
- Muitos jogos são repetitivos e possuem o mesmo formato;
- AI em alguns títulos não é muito boa;
- Preço muito alto pelo que é oferecido no pacote;
- A falta de alguns outros jogos clássicos é sentida.
Nota
7
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