
Desenvolvedora: PlatinumGames
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 28 de Outubro, 2022
Preço: R$ 299,00
Formato: Digital / Físico
Análise feita com cópia adquirida pelo redator.
Revisão: Marcos Vinícius
Não sou um fã antigo de Bayonetta. Aliás, até ano passado, não tinha mínimo interesse na franquia, muito por conta da impressão de caricatura da série. Eventualmente, contudo, fui capaz de encontrar uma cópia relativamente barata de Bayonetta 1 & 2, para o Wii U, e assim me apaixonei pela série. O que achava tosco mostrou-se como o charme dos títulos, e a objetificação sexual dos idealizadores transformou-se em um tipo de exploração do corpo feito de forma pessoal pela protagonista, servindo apenas a si mesma com o prazer da dança e do caos dos campos de batalha. Sendo assim, dizer que estava ansioso para o novo lançamento seria um verdadeiro eufemismo.
— No dia 28 de outubro, contudo, tudo mudou.
Após uma série de polêmicas envolvendo o criador da franquia, Hideki Kamiya, e a antiga dubladora de Bayonetta, Hellena Taylor, o lançamento acabou por se desgastar antes do tempo, mesmo com uma resolução positiva à publisher, Nintendo, e à PlatinumGames, a desenvolvedora. Ainda nos eventos que antecederam o tão aguardado dia de estreia, quando diversas reviews positivas rasgavam elogios ao jogo, dois textos em específico (Polygon, The Verge) diminuíram ainda mais meu entusiasmo pela obra, por uma questão de caracterização que irei abordar ao longo da presente análise. Apesar de todas as adversidades, fui capaz de manter certo otimismo que se valeu por parte considerável da obra, até não ser capaz de segurar minhas insatisfações por diversos fatores.
Sendo assim, caro leitor e cara leitora, preciso antecipar o conteúdo das próximas linhas: não espere uma review positiva do título no presente texto. Visto que diversas análises já levantaram todos os méritos, buscarei hoje entender suas falhas fundamentais, podendo ser cruel em alguns momentos, mas espero que compreendam minhas frustrações ao término da leitura. Sigamos, de toda forma.

Uma breve síntese
A força motriz da franquia, sem dúvida, é sua protagonista. Bayonetta é uma mulher instigante, provocativa e implacável, contrapondo-se a outros personagens do gênero por sua graça e compostura. Naturalmente, os dois primeiros jogos não fogem desse pilar, focando suas narrativas ao redor de si, buscando explorar a origem e os poderes de “Cereza”, que tem consigo um elenco proporcionalmente instigante: Enzo, um mafioso capacho, Rodin, um bartender infernal, Lukka, um repórter sedutor e desleixado, e Jeanne, sua sombra, o complemento perfeito que a eleva, em um relacionamento ambíguo que ultrapassa a mera amizade.
De toda forma, a duologia se complementa de forma literal, compondo uma narrativa amarrada e intrigada, elevando Bayonetta até um estado quase inalcançável. Transitando, no primeiro jogo, pelas esferas do “Paradiso”, e, no segundo, pelo “Inferno”, Cereza é capaz de domar as realidades da ordem e do caos, sem deixar espaço para uma sequência direta.
Bayonetta 3, então, surge a partir não de uma natural evolução da trama e dos temas, e sim de uma corrente popular na mídia: o multiverso. Visto que viagens no tempo já foram abordadas em títulos anteriores, a temática parecia se adequar ao espírito da série, ou ao menos é o que eu poderia dizer antes de colocar minhas mãos na obra.
Distanciando-se de anjos e demônios, o jogo traz uma nova categoria de inimigos: homúnculos, um exército artificial criado por humanos do alfaverso: universo que busca a soberania perante todos os outros do multiverso, destruindo-os um a um, buscando singularidade. Para realizar as explicações iniciais, somos apresentados a Viola, a mais nova personagem da série, que traz em si um estilo punk rock, que viaja pelo multiverso para combater os homúnculos.
Já no prólogo compreendemos o potencial catastrófico da nova ameaça, quando presenciamos o encontro de Viola com Bayonetta, Jeanne e Rodin, em meio a uma invasão que destrói por completo a cidade de Nova York. A partir de então, viajamos até uma ilha secreta, construída em conjunto por bruxas Umbra e sábios Lumen (representantes da ordem e do caos), com o intuito de pesquisar e proteger o multiverso, e lá temos o objetivo de encontrarmos mecanismos que nos darão a oportunidade de viajar livremente pelo multiverso, sendo possível dar um fim ao alfaverso. Assim, Bayonetta e Viola cruzam o multiverso em busca dos artefatos místicos, encontrando diversas versões de Cereza ao longo do caminho, e presenciando o aumento do poder de seus oponentes.

Sendo sincero, as narrativas de Bayonetta nunca foram o ponto forte da série. Nos títulos anteriores, a trama se dava de forma linear: chegamos a uma cidade e precisamos chegar até um objetivo final, para isso tendo de cruzar contra hordas de anjos e demônios, por vezes sendo necessário passar pelo inferno ou pelo paradiso. Qualquer detalhe de Lore a mais a nós era passado por cadernos encontrados pelo mapa, geralmente anotações das pesquisas de Lukka, nos dando uma ideia geral da Lore que satisfaz a curiosidade.
O grande forte da série, inegavelmente, sempre fora seus exageros: a postura irreverente, a música intensa e acelerada e os combates em si, com ataques realizados como uma dança, Bayonetta estando em júbilo constante. Dessa forma, caso Bayonetta 3 acertasse no tom, não haveria problema algum de a história ser confusa e vaga, como o é aqui, sem nunca explicar as intenções dos vilões além do básico, por exemplo. O principal problema da obra, à primeira vista, é que, ao escalar radicalmente sua escala, seus elementos mais primordiais ficaram de escanteio, prejudicando a qualidade do título.
Progressão e escala
Entre o primeiro e o segundo jogo, presenciamos um aumento natural de escala na franquia. Os campos de batalha são mais caóticos, os cenários se destroem com mais facilidade, presenciamos bosses ainda mais gigantescos e a ameaça é muito mais palpável. Aqui, é inegável o mesmo aumento da escala: vemos cidades inteiras sendo destruídas por criaturas colossais, e somos capazes de controlar demônios gigantescos, despertando um sentimento de batalha de kaijus no melhor estilo de Godzila e companhia.
Com a melhora de hardware, saindo do Wii U para o Nintendo Switch, os desenvolvedores foram capazes de colocar todas suas ideias no título, carregando um claro legado do cancelado título para Xbox “Scalebound”, com cenários muito maiores para explorarmos e invocarmos demônios, sacrificando a linearidade típica da série, difundindo a atenção do jogador em espaços vazios, mas que podem conter eventuais lutas secretas e itens ocultos.
A progressão, por outro lado, se dá por diversos capítulos: três para cada universo explorado, contando alguns poucos em que jogamos enquanto Viola, além de cenários extras em que controlamos Jeanne em uma missão paralela, invadindo uma base inimiga em busca de um cientista. Além disso, podemos melhorar personagens e armas por árvores de skills, por meio de pontos adquiridos em batalhas, dando mais habilidades de luta e aos kaijus. O combate em si é satisfatório como sempre, sem tempo para respirar, em combos rápidos e precisos, e a satisfação de conseguir ativar o Witch Time com dodges perfeitos é tão incrível quanto sempre foi. A inclusão dos kaijus, contudo, deixa as batalhas bem mais lentas que o habitual, especialmente quando, ao término de combos, o jogo paralisa por um instante para convocarmos os demônios, o que sempre estraga o ritmo da luta.
Ainda assim, é inegável que a PlatinumGames mais uma vez foi capaz de entregar um excelente sistema de combate, com bastante variedade e com a importante inclusão de Viola, com um moveset bem atípico, ativando o Witch Time apenas com parrys perfeitos, e com uma postura e personalidade incrível. Ainda nesse sentido, aproveito para falar um pouco da música: em todos os jogos, a música tema é um remix de um clássico da década de 1950 envolvendo o luar em alguma capacidade, referenciando o poder de Bayonetta: no primeiro, “Fly me to the moon”, posteriormente “Moon River” e, aqui, acertaram com “Moonlight Serenade”, fechando um trio consistente na qualidade e que entrega a personalidade de Bayonetta de forma precisa.
Da mesma forma, a música tema de Viola é um punk aceleradíssimo, insano e divertido, mostrando seu espírito incontrolável, mas também apontando para seus impulsos desenfreados. Todo o restante da trilha, contudo, deixa muito a desejar, com composições monótonas e sem qualquer impacto. Uma escala maior pede músicas à altura, mas sem um incentivo sonoro somos deixados apenas com mapas e cenários monótonos.

O erro crasso
Sendo sincero, acredito que a maioria que puser as mãos no jogo irá adorá-lo. A PlatinumGames permanece sendo o principal nome de jogos hack’n slash, e é inegável o quanto eles se importam com suas criações. Entretanto, acredito que aqui eles tenham cometido um erro drástico, tornando a experiência em algo extremamente frustrante: o tom.
Mesmo com a escala maior, Bayonetta parece diminuir. E não, não estou me referindo à sua nova voz vinda de Jennifer Hale, que está excelente no papel, diga-se de passagem; o problema está na forma como Cereza aqui se apresenta, no geral. Tendo arcos claros de desenvolvimento no passado, em tramas íntimas e profundas, aqui a personagem parece rígida, com poucas provocações de peso, típicas da personagem, e sem demonstrar suas emoções até os momentos finais do jogo.
Bayonetta se apresenta quase como mera observadora, contrastando tanto consigo mesma nos outros títulos quanto com Viola, essa sim se expressando constantemente, a ponto em que preferia estar jogando um jogo apenas dela. Da mesma forma, mesmo sendo uma experiência incrível jogar com Jeanne, há algo de estranho não ver as duas interagindo de forma constante, com farpas e flertes trocados a todos os instantes, em uma das melhores químicas dos jogos.
O final em si também apresenta uma problemática difícil de engolir, mas não entrarei em spoilers no momento. O que fere os momentos finais, contudo, é como os desenvolvedores tiveram uma abordagem da personagem tão radicalmente diferente do que víamos em outros jogos, a ponto em que, pessoalmente, vejo Cereza no jogo como uma versão paralela da Bayonetta que conhecemos, porque não há construção alguma para o clímax do jogo, não aqui e muito menos nos demais títulos. De toda forma, o tom da personagem parece estar tão dessincronizado que é difícil aproveitar a narrativa, mesmo com diversas referências aos jogos anteriores que deixariam fãs realmente animados com o término da trilogia.

Conclusão
Bayonetta 3 não é um jogo ruim, mas não é nem de longe a melhor criação da PlatinumGames. Com problemas de escala e tom, é difícil recomendar o título para quem é apaixonado pela dinâmica de Cereza com os demais personagens da série, mas podendo ser uma boa porta de entrada a novos fãs do gênero, ao menos. Contudo, sendo bastante franco, caso você, caro leitor ou cara leitora, estiver atrás de um jogo com combate intenso e com boa narrativa, recomendaria fortemente deixar passar a obra, e ao invés disso procurar o recém-lançado NieR: Automata [Leia nossa análise aqui] ou o instigante, porém esquecido, Astral Chain, que contém experiências muito mais satisfatórias do que a aqui apresentada.
Prós
- Combate intenso;
- Algumas sequências de Bosses impressionam;
- Viola sendo uma excelente adição à franquia;
- Grande variação de estilo de combate.
Contras:
- Bayonetta perde muito de sua personalidade;
- Kaijus deixam o combate arrastado;
- Mapas vazios e sem necessidade de serem tão grandes, a não ser por conta da possibilidade de invocar demônios;
- História fraca e vilões sem propósito inventivo.
Nota Final:
7,5
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