
Desenvolvedora: A Grumpy Fox
Publicadora: Deck13
Data de lançamento: 10 de Novembro, 2022
Preço: R$ 10,89
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Deck13.
Revisão: Marcos Vinicius
É bem fácil, quando pensando a fundo, imaginar que o gênero de plataforma nunca alcançou uma universalidade real como formato. Começando pelas fases lineares baseadas em desafios de plataforma e precisão, adquirindo o fator velocidade e múltiplas camadas em uma fase, até chegar em plataformas focados em combate e outros tipos de experiência.
Se de certa forma no jogo de plataforma 2D todas as experiências mais famosas como Super Mario Bros., Kirby e Sonic por exemplo, se apresentam com bastante singularidade, são experiências muito únicas embora tenham algo em comum, no plataforma 3D é mais fácil ainda identificar e assumir as diferenças dessas experiências. Isso se traduz de forma mais discrepante em franquias como por exemplo Sonic, que tendo ou não uma transição difícil para o 3D, assume diferentes identidades durante sua já longa jornada no estilo.
Por isso é tão curioso ver um título como Lunistice, que se propõe a homenagear e amalgamar um recorte desse gênero, os jogos de plataforma da quinta geração em específico mas ainda com uma boa dose de influência dos que vieram na sexta, justamente por quão diferente essas experiências eram uma das outras.
Se o Nintendo 64 nessa época estava no auge do gênero Collect-a-Thon com alguns jogos atemporais, a Sony emplacou no PlayStation uma tradução mais literal da linearidade dos jogos 2D do gênero com seu mascote da época, Crash Bandicoot. Pouco tempo depois também teríamos no SEGA Dreamcast o que é considerado por muitos até hoje os melhores jogos 3D da franquia Sonic, trazendo sua própria e única interpretação de como esses jogos seriam com uma nova dimensão.
Se de certa forma acho bastante ambicioso contemplar todas essas referências de outrora sem se perder, posso dizer que Lunistice tem bastante cuidado ao juntá-las, e o que lhe falta de jeitinho ele compensa com paixão. Vamos contemplar o saudosismo moderno que a viagem de Lunistice propõe e o quão bem ele se porta em carregar esse pesado fardo cultural.
O que faz um bom platformer 3D
Se de certa forma o mais importante em um platformer é a filosofia de level design e o quão bem isso é executado, é fácil imaginar que a maneira como você pode interagir com esse level design é igualmente interessante para o resultado final.
Franquias como Super Mario Bros. são a prova viva disso, já que mesmo com os level design mirabolantes e inovadores a cada geração, ainda existe muito apelo e paixão dos fãs pelo primogênito da série em três dimensões, o Super Mario 64 que possui um moveset extremamente fluído completo e responsivo como seu ponto mais forte. Nesse sentido, Lunistice tem um problema quase que sem solução. Veja bem, o jogo se propõe a colocar todo esse compilado de referências em seu level design, embora boa parte desse jogo ofereça desafios de plataforma de precisão mais conservadores, ele também é recheado de sessões exclusivamente de velocidade.


Durante essas sessões, ao interagir com o cenário, o jogador poderá adquirir velocidade andando em alguns pisos especiais e até derrapar por linhas e fios como o Sonic faz em basicamente qualquer uma de suas aventuras. Por conta dessa discrepância de ideias e estilos, e por contar com um moveset bastante simples, Lunistice acaba deixando a desejar em um sentido sempre.
Embora a física leve e o giro pesado funcionem muito bem para as seções de velocidade, é um pouco difícil se adaptar aos controles bastante responsivos e simples nos momentos de precisão, que são muitos. Isso dito, como o moveset é bastante simples como supracitado, uma vez que se acostume com os comandos o jogador é recompensado podendo navegar em todas as seções com esses mesmos comandos que funcionam de forma consistente sempre.
O senso de jornada

Assim como é bem comum no gênero de plataforma, a história e a lore dentro dessa aventura é bem enxuta, e embora alguns jogos colecionem uma extensa quantidade de informação e personagens, isso foi construído através de décadas de evolução, sendo que a maioria deles não é recheado de conversas e cutscenes. Nesse sentido Lunistice captura bem a essência do que é essencial, apenas uma desculpa para embarcar em uma jornada. Meia dúzia de palavras balbuciadas no início e game on, embarque numa jornada pela jornada, que tem muito mais para ser sentido que falado aqui.
Assumir essa postura é um baita acerto de Lunistice, as idle animations do crash e as poucas e destrutivas interações do personagem esbanjam mais carisma e cativam mais pessoas que incontáveis jogos de 100 horas de texto, isso casa muito bem com o gênero no geral. Isso dito, embora a aventura como um todo tenha seu charme em seus visuais retrô, não temos basicamente se quer migalhas do alinhamento e personalidade de nossa protagonista, a Hana, que não possui nenhum tipo de opinião forte de modo geral, o que se volta contra a simplicidade exacerbada que poderia ser um acerto em cheio.
Se com o Mario vemos o senso de moral e bondade incontestável em enfrentar o antagonista Bowser, e no Crash Bandicoot e Sonic podemos ver uma aposta maior em carisma e uma oposição resiliente contra seus vilões megalomaníacos, aqui a falta de um inimigo físico e a pouquíssima (ou nenhuma) personalidade da protagonista se traduz em uma falha na ligação emocional que devíamos ter com a mascote. E enxergando como hoje, sabemos o peso desses mascotes para uma franquia, vendo diariamente como qualquer jogo com o nome Sonic ou Mario, independente de qualidade, venderão milhões de cópias, acho uma ideia pouco interessante não apostar no mascote.

Ainda assim, não é como se o jogo, como um todo, fosse desprovido de personalidade. Lunistice é dividido basicamente em zonas e atos como Sonic, com cada zona tendo dois atos que utilizam as mesmas gimmicks e estéticas, e esse jogo realmente brilha nesse ponto.
Cada zona é bem diferente da outra, os visuais retrô são bastante cativantes, embora pelo menos na versão de Nintendo Switch a resolução de texturas seja um pouco baixa demais, as gimmicks também fazem com o que o jogador nunca se sinta entediado por ter uma boa quantidade de ideias sempre em curtos espaços de tempo.
Rebeldia sem causa

A falta de inimigos causa estranhamento do começo ao fim. Embora alguns se resumam a formas geométricas básicas com textura de slime dispersos pelas fases, o jogador raramente deve se preocupar com eles, ou adaptar sua estratégia. Com o moveset sendo dois pulos e um golpe giratório (que pode ser usado para ganhar distância durante os pulos), os inimigos no caminho podem ser obliterados com o segundo golpe sem exceção. Por isso, embora o jogador só possa levar 3 golpes antes de retornar ao último checkpoint, isso raramente vai ser o motivo da falha do jogador.
Outro ponto importante dentro desse contexto é que o jogo não utiliza um sistema de vidas após uma falha. O jogador é levado ao último checkpoint e aumenta um número no contador de resets, que vai ser um determinante para a nota final do jogador na fase. Dessa forma, Lunistice passa uma constante sensação de que não é de fato difícil se esforçar e de que você nunca está de fato em perigo, já que você pode seguir reto vez após vez até acertar sem pensar muito. E mesmo as seções de maior dificuldade em platforming se devem mais a estranheza com a física única do jogo do que do próprio level design. Ainda assim, o jogo possui esse nível de dificuldade, uma diversidade considerável de gimmicks que fará o jogador se manter constantemente entretido, e uma duração consideravelmente curta que não vai dar tempo do jogador se cansar.
Ainda para aqueles que terminarem a experiência com gosto de quero mais, Lunistice oferece dois personagens diferentes após a conclusão da primeira run, eles alteram tanto o estilo de jogo quanto a dificuldade enfrentada e realmente incentivam o jogador a uma segunda e terceira run. O sistema de notas ainda é bem punitivo e pode ser desafiador garantir boas notas em toda a aventura.
Por fim, ainda existe uma função similar a da série Donkey Kong Country onde você deve juntar as 4 letras do nome da protagonista para ganhar uma boa nota no final do ato, isso estimula o jogador a estar sempre de olhos abertos para caminhos secretos, fora que o próprio jogo já tem múltiplas rotas para chegar ao final de uma fase em algumas situações, o que também é um estimulante.
O legado de Lunistice

Em suma, Lunistice entrega uma experiência bastante divertida e apaixonante, embora não seja tão polida. Seja deslizando por trilhos e tentando se manter no caminho de cima, completando sequências insanas de platforming para conseguir coletáveis escondidos ou derrotando hordas de inimigos amassando um só botão, o jogo oferece uma experiência intuitiva, dinâmica e fluída.
No que tange a remeter aos seus antecessores, Lunistice faz um ótimo trabalho, mas ainda sinto falta de algo que o torne único e ousado, algo que todas suas referências tem. De qualquer forma, não foi o refinamento, polidez ou qualidade técnica que necessariamente fez desses ícones do passado a lenda que são hoje, e alguns dos casos seus bugs são tão famosos e grandes quanto seus legados. Ainda assim, Lunistice demonstra o carisma, a paixão e a diversão desenfreada e despreocupada que esses títulos carregam, demonstrando principalmente o potencial para ser algo ainda maior.
Por fim, o que essa aventura de fato entrega é uma jornada divertida e despreocupada, com boas músicas e muitas ideias interessantes aproveitadas de maneiras simples. Caso você queira esquecer por algumas horas todos os avanços que a indústria tornou essencial para um bom jogo durante os anos e só cair de cabeça em uma aventura frenética como um garoto dos anos 2000 e seu PSOne, bem, Lunistice pode ser para você!
Prós:
- Muitas boas ideias, o jogo nunca fica entediante;
- Cumpre o papel de homenagear jogos de plataforma da quinta e sexta geração;
- Ótima trilha sonora.
Contras:
- Mascote pouco carismático;
- Falta da sensação de perigo;
- Física de difícil adaptação.
Nota Final:
7
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