Além de um spin-off: Uma retrospectiva do revolucionário Metroid Prime

Metroid tem um peso enorme para a História dos videogames. O título do Nintendinho foi o responsável por dar um salto técnico e revolucionar os jogos de plataforma side-scrolling, além de apresentar – dentro de um universo dominado por homens – a primeira protagonista mulher, Samus Aran. A aclamação da heroína e da franquia Metroid como um todo, veio com Super Metroid, lançado para o Super Nintendo, em 1994. Um clássico atemporal que pode ser conferido no catálogo do Nintendo Switch online (recomendo, inclusive).

Surge Metroid Prime

No processo de entrada da gigante japonesa no mundo tridimensional com o Nintendo 64, enquanto títulos queridos como Mario, The Legend of Zelda e F-Zero ganhavam versões que exploravam as novas possibilidades do poderoso console 64-bit e novas franquias – como Super Smash Bros. – surgiam, Metroid havia sido colocado para escanteio. Tudo mudou quando a Retro Studios – empresa fundada em 1998, por Jeff Spangenberg – foi incumbida por Shigeru Miyamoto a desenvolver um novo jogo da já famosa caçadora de recompensas. Assim, em 2002, nascia Metroid Prime, lançado para o console que “emprestou sua portabilidade para o Nintendo Switch”, o GameCube.

O jogo foi o responsável por reimaginar as aventuras de Samus Aran, mantendo as mecânicas e a essência exploratória dos títulos anteriores, mas adaptando aquele mundo labiríntico para o 3D. A jogabilidade era toda em primeira pessoa, mas sem o ritmo de shooters convencionais, tal qual DOOM, Quake ou Halo. Essa nova experiência de gameplay foi batizada de First Person Adventure (FPA). Algo que imprime com precisão o foco de Metroid Prime, na medida que a aventura e exploração presentes são mais importantes e relevantes que sentar o dedo em inimigos que aparecem na tela.

A chegada do jogo da caçadora de recompensas para o GameCube, no entanto, foi cercada de incertezas, tanto que ele foi lançado junto do incrível Metroid Fusion, para Game Boy Advance. Jogo que colocou a história de Super Metroid para frente e que mantinha toda a essência já estabelecida dos títulos anteriores. O tempo provou que isso não seria necessário, pois Prime foi um sucesso de vendas e crítica. Até 2021, com o lançamento de Metroid Dread, era o título mais vendido da franquia, com cerca de 2.81 milhões de unidades.

O silêncio em torno de Metroid Prime 4

As sequências de Metroid Prime – Echoes (GameCube) e Corruption (Wii) – apesar de não alcançarem o sucesso comercial do primeiro jogo, se saíram muito bem com as críticas da época. Porém, apesar de dar as caras em uma outra coletânea e nos spin-off Hunters, Pinball e Federation Force, desde 2007 não contamos com um novo jogo da série para um console. Com o lançamento do Switch, em 2017, um novo capítulo foi prometido. Problemas no desenvolvimento, no entanto, levaram a Nintendo, em 2019, a começar do zero a produção do jogo. Mais uma vez sob as asas da Retro Studios, lá se vão quase quatro anos de silêncio absoluto sobre Metroid Prime 4.

Nesse meio tempo, boatos de uma versão remasterizada do primeiro jogo começaram a aparecer. A cada Nintendo Direct os fãs aguardavam com ansiedade notícia sobre esse ou o quarto jogo. Mas, nada! Ao invés disso, em 2021, tivemos o anúncio de Metroid 5. Que causou situações engraçadas, na medida em que a galera não conseguia distinguir a série principal de seu spin-off famoso.

De toda forma, Metroid Dread serviu, de termômetro, para testar como o público reagiria ao retorno da franquia, depois de tanto tempo longe dos consoles de mesa. O jogo ultrapassou as vendas de Metroid Prime e mesmo contando com uma gama específica de fãs provou que a série merece ganhar mais uma vez os holofotes.

Metroid Prime Remastered

No dia 7 de fevereiro a Nintendo anunciou – depois do relatório trimestral para seus acionistas – para o dia seguinte, a sua primeira Nintendo Direct de 2023. Os fãs mais uma vez cruzaram os dedos na torcida por notícias de Metroid Prime. E, finalmente, ela veio, em forma do lançamento surpresa – para aquela mesma noite – de uma versão remasterizada do título original, de 2002. Continuamos sem notícias do quarto episódio, é verdade, mas ainda sim, após 21 anos, os fãs agora poderiam colocar as mãos, mais uma vez, em um jogo da série Prime.

Metroid Prime Remastered foge dos convencionais ports de jogos de consoles antigos que a Nintendo vinha lançando até então. Não se trata de uma mera versão emulada, com aumento grotesco de resolução e vendida a preço cheio, como a coletânea Super Mario 3D All-Stars. O nível visto aqui é espetacular. A Retro Studios usou a nova engine – em que está produzindo Metroid Prime 4 – para encaixar o código do jogo original. O resultado é que inimigos, objetos, elementos de cenário, iluminação, absolutamente tudo está mais belo e nos dá a impressão de jogar um título recente.

Além de refinar a experiência visual, apresentando gráficos HD de ponta, essa versão remasterizada também atualiza os controles do jogo original para a nossa época, sendo agora possível regular a câmera pelo analógico direito. Na verdade, há um leque bem grande de possibilidades de configuração do controle. Quer jogar como você costumava jogar no Wii? Pode. Quer jogar como você jogava no Game Cube? Pode também. Quer jogar com o giroscópio ligado para refinar a mira e ter uma experiência parecida com a de shooters da própria Nintendo, como Splatoon 3? Fique à vontade!

Um presente para os fãs

O pacote ainda guarda surpresas como um material extra com artes conceituais, OST e Bios dos inimigos encontrados durante nossa exploração ao planeta Tallon IV. Rodando a 900p no modo dock e a cravados 60fps, o jogo é um presente para os fãs de longa data, uma excelente oportunidade para novos jogadores e jogadoras conhecerem a série e prepara terreno para a chegada de Metroid Prime 4.

A nossa memória tende a embelezar experiências passadas. É assim com filmes, desenhos e jogos, por exemplo. Coisas que pareciam incríveis aos nossos olhos tempos atrás, se mostram estranhas quando vistas hoje em dia. O que a Retro fez foi retirar essa estranheza de nossa visita ao passado. Ela manteve o mesmo brilho e beleza que a nossa memória guardava.