
Desenvolvedora: Atlus
Publicadora: Atlus, SEGA
Data de lançamento: 19 de janeiro, 2023
Preço: R$99,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave fornecida gentilmente pela Atlus.
Revisão: Ivanir Ignacchitti
Após Persona 5 Royal chegar ao Nintendo Switch no final do ano passado, o console híbrido da Nintendo é agora agraciado com dois de seus antecessores. Persona 3 Portable traz uma versão modificada do terceiro título da série para o Switch, introduzindo uma nova leva de jogadores à obra que colocou a franquia Persona no radar de muitos.
A evolução que era necessária

A série Persona teve início em 1996 com o lançamento de Megami Ibunroku Persona para o PlayStation 1. Sendo um spin-off de Shin Megami Tensei, os primeiros títulos da série Persona, ambos P1 e suas sequências Persona 2: Innocent Sin e Eternal Punishment, eram puros RPGs que se baseiam bastante nas mecânicas e elementos de Shin Megami Tensei.
Jogadores enfrentam demônios como inimigos, com a exploração de cenários sendo realizada em primeira pessoa (ao menos em Persona 1). A única diferença que Persona possuía em relação à série principal era que o grupo do jogador era composto por outros humanos e que, em vez de adquirir demônios, contava com a ajuda de espíritos chamados Persona.
Apesar de ter tido sucesso, a franquia Persona era um spin-off que não possuía a força que tem hoje e, por isso, após o lançamento de Eternal Punishment, a série entrou em um sono de seis anos. Essa espera valeu a pena, pois a Atlus reformulou a série em seus elementos mais básicos, fazendo Persona se distanciar da sombra de seu irmão mais velho e, eventualmente, se tornar bem mais famoso do que a franquia que lhe deu origem.

Persona 3, lançado originalmente em 2006 no PS2, trouxe uma grande revolução para a franquia. Misturando elementos de dating sim com RPG, o game criou a fórmula moderna da franquia, que foi melhorada por seus sucessores. Assim como em Persona 1 e 2, os jogadores ainda controlam um estudante japonês, mas desta vez é preciso equilibrar a sua vida diária com a luta contra os monstros que ameaçam o mundo.
Após seu lançamento original, Persona 3 ainda recebeu um update no PS2, batizado de FES, que incluía um epílogo para a história e adição de novos itens e Personas. Em 2009, o título chegou ao PSP através da versão Portable, que adicionava a possibilidade de escolher uma protagonista feminina, além de algumas melhorias em relação ao original.
A vida de um estudante japonês

Em Persona 3 Portable, os jogadores assumem o controle de um/a estudante do ensino médio japonês. Sendo recém transferido/a para Tatsumi Port Island, uma ilha artificial criada pela corporação Kirijo. A vida escolar muda quando somos introduzidos à Dark Hour, uma hora especial na qual a escola que frequentamos se transforma em uma torre repleta de criaturas chamadas de Shadow que desejam destruir a humanidade.
O protagonista desperta o poder especial chamado de Persona e se junta ao S.E.E.S (Special Extracurricular Extermination Squadron) para combater as Shadows e explorar a Torre Tartarus. Assim, durante um ano, o jogador precisa conciliar a vida escolar e a exploração do local com seus colegas, uma mistura que une os estilos de jogo de uma dating sim com os de um RPG tradicional por turnos.

Persona 3 Portable introduz o sistema de calendário à série, com os jogadores vivendo o dia a dia de um estudante japonês. Pela manhã, será necessário ir para a escola, saindo à tarde do local, podendo então explorar a cidade de Tatsumi Port Island ou passar um tempo com amigos. À noite, é possível estudar, realizar algumas ações ou ir explorar o Tartarus.
São contabilizados os dias das semanas, além de eventos especiais como feriados ou semanas de provas. O sistema de calendário é uma introdução interessante, que foi incluída como uma parte importante da narrativa. Sua introdução também colabora com o que é possivelmente a adição mais importante para a série e que acabou elevando o status de Persona como uma das franquias de RPGs mais famosas do gênero: os Social Links.
O poder da amizade

O sistema de Social Link é o maior diferencial de Persona 3 Portable em relação aos títulos passados da franquia. De uma forma resumida, é o famoso “poder da amizade” que muitos animes usam como fundo para suas narrativas como uma forma de gameplay, e que também foi introduzido como um elemento importante para transmitir a mensagem da narrativa aos jogadores.
Durante os momentos do dia a dia, os jogadores podem interagir com certos NPCs e criar vínculos com os mesmos. Esses laços são os Social Links, que concedem ao jogador a possibilidade de adquirir Personas ainda mais poderosas através de fusões. Os SL só podem ser ativados durante o dia a dia, com cada NPC possuindo sua própria rotina, alguns sendo disponíveis só em certos dias da semana, enquanto outros só aparecem à noite, sendo preciso equilibrar bem os seus dias para conseguir interagir com todos.
Cada Social Link serve como uma pequena narrativa do NPC envolvido nele, com o jogador muitas vezes ajudando-os a superar algum problema pessoal. Social Links são divididos por ranks, com 10 sendo o máximo, onde o laço é completado e o jogador é recompensado com a possibilidade de criar uma poderosa Persona. Para subir de rank, além de passar tempo com os NPCs, é preciso escolher a opção certa quando houver uma pergunta ou ação. É preciso tomar cuidado com ações realizadas fora das interações normais, como recusar um convite muitas vezes ou escolher uma resposta errada, pois em Persona 3, os Social Links podem ser resetados ou até quebrados.

Por esta ser a primeira iteração do sistema de Social Link, existe ainda bastante espaço para melhora. A mecânica tem alguns problemas, que são consertados em jogos futuros. Apenas os membros femininos do esquadrão S.E.E.S possuem Social Links, alguns requerem outros relacionamentos para se ter início ou datas específicas, e todos os relacionamentos com garotas terminam em romance.
Alguns desses problemas são consertados nos próximos jogos e na rota da protagonista feminina, adicionada em Persona 3 Portable. Já outros, eu não os considero um grande problema e até acho que foram bem aplicados aqui, como o fato de que a evolução dos personagens não está ligada aos seus mini-arcos dentro dos Social Links.

Graças ao fato de que os Social Links são opcionais, podemos acompanhar bem a evolução do elenco principal ao longo da narrativa. Suas resoluções acontecem de forma mais natural e impactam bastante a narrativa. O resultado é uma história mais natural com todo o grupo evoluindo a passos similares e sem que nenhum personagem seja ignorado ou deixado de lado, algo bem mais agradável e menos opcional do que nos jogos futuros.
Diferente de outros jogos que vieram após ele, em Persona 3 Portable, o grupo principal são amigos, mas não tão próximos assim. Existem conflitos internos que acontecem ao longo da jornada, pessoas não confiando totalmente em si e até mesmo momentos em que certos membros simplesmente não aceitam explorar o Tartarus com você. Assim, vemos uma evolução mais natural do grupo ao longo da narrativa, se tornando bons amigos, aceitando suas diferenças e crescendo juntos, criando laços que são bem mais significativos e têm um impacto bem maior na narrativa do título.
Dois lados de uma mesma moeda

A narrativa de Persona 3 Portable é uma das mais depressivas e pesadas da franquia Persona. O tom do game é melancólico, com sua história apresentando temas que fazem o clima ser único em relação aos seus sucessores. Morte é um dos temas principais da aventura, com personagens, tanto principais quanto npcs secundários, morrendo quando se é menos esperado. Questões sobre a natureza humana e a busca por uma razão de viver, sendo alguns dos motivos que movem diversos personagens ao longo da narrativa.
Para combinar com essa melancolia, o protagonista de Persona 3 Portable é diferente dos outros da série. Tendo passado por uma situação terrível em sua infância, ficando órfão de ambos os pais, o personagem principal da aventura tem sintomas de depressão e de apatia, não se importando muito com sua vida ou a de outros. Muitas das escolhas que são oferecidas mostram que ele é alguém com tendências para não criar laços e que prefere ficar sozinho do que estar no centro das atenções. É o total oposto dos heróis dos próximos jogos, que são um pouco introvertidos mas tem uma personalidade mais animada.

Persona 4, apesar de ser uma sequência, trouxe uma vibe bem diferente, com uma alegria a mais que diferenciou o título de seu antecessor. A Atlus tentou trazer um pouco dessa alegria com Portable com a introdução da protagonista feminina. Apesar de seguir a mesma narrativa de sua versão masculina, e ter o mesmo passado, a FEMC (como os fãs a chamam), tem uma personalidade bem mais extrovertida, com interações e respostas mais “alegres” que sua contraparte.
Engana-se, porém, quem acredita que isso altera a emoção da narrativa de Persona 3 Portable. Como mencionado, a protagonista feminina passou pelos mesmos problemas de sua versão masculina e sua personalidade extrovertida é apenas uma máscara. Sua adição pode ter sido feita para agradar aqueles que jogaram Persona 4, mas ela ainda consegue transmitir bem a mensagem original de Persona 3, assim como seu tom melancólico e trágico tão naturalmente quanto o que é encontrado ao seguir o herói original. Ambos são dois lados de uma mesma moeda, apenas muda que um vê a vida com um pessimismo maior e a outra tenta se divertir e alegrar aqueles que estão à sua volta.
Dois pesos e duas medidas

Persona 3 Portable oferece uma experiência bem diferente de Persona 3, removendo exploração 3D e transformando a apresentação em uma Visual Novel. Os visuais também foram reduzidos e as animações 2D foram completamente removidas. Em compensação, temos uma nova heroína como opção e a possibilidade de controlar os parceiros durante as batalhas.
A apresentação original de Persona 3 sofreu bastante com a conversão para as limitações do PSP, a plataforma original de Portable. Os visuais foram reduzidos, mas toda a exploração 3D foi descartada, assim como cutscenes e cenas de anime. Como uma forma de tentar ainda passar a mesma sensação do original, existe uma descrição maior dos eventos e ações realizadas durante os momentos de Visual Novel.

Em compensação, as mudanças de gameplay oferecidas pelo título ajudam bastante na parte de RPG do título. Um exemplo é a possibilidade de controlar a party. Originalmente, Persona 3 permitia o controle apenas do protagonista, com seus amigos sendo controlados pela IA. Portable trouxe o sistema de Persona 4 para o jogo, permitindo conceder ordens a todo o seu time. Isso quebra bastante a dificuldade do título, uma vez que a Atlus não quis rebalancear o jogo para essa adição.
Como joguei Portable primeiro, suas desvantagens não me afetaram muito. Entendo que muitos prefeririam ter os cenários 3D para exploração e as animações, mas os pontos positivos de Portable também são coisas que não dá para negar serem muito úteis, principalmente a mudança no sistema de fadiga ao explorar o Tartarus e as melhorias nas batalhas oferecidas à equipe.
Queimando o seu pão

Quando a noite cai, jogadores podem decidir ir explorar o Tartarus, a dungeon principal de Persona 3. O Tartarus é uma torre gigante, que possui 6 blocos variados e 262 andares, com cada parte da torre sendo desbloqueada conforme o jogador avança pelos meses. Este é o único local 3D do jogo e o único que pode ser explorado.
O Tartarus é um lugar entediante e talvez a pior parte de Persona 3 Portable, graças a sua repetição e falta de diversidade. Os andares, que são criados aleatoriamente a cada exploração, possuem a mesma aparência e a música que toca durante sua estadia no local é repetitiva e chata. O ambiente também é a casa dos Shadows, os inimigos do jogo, que andam por lá e podem ser tocados para assim começar um duelo.

As batalhas em Persona 3 Portable são realizadas em forma de turno com um sistema bem similar ao apresentado nos jogos da série Shin Megami Tensei, especialmente Shin Megami Tensei 3 Nocturne. Nelas, os jogadores podem atacar os inimigos com sua arma equipável, usar as habilidades das Personas ou então itens. Assim como nos jogos de SMT, não é um sistema complexo e a estratégia principal é abusar das fraquezas dos inimigos para ganhar turnos extras e causar ainda mais dano.
As principais diferenças de Persona 3 Portable com a série Shin Megami Tensei são: a introdução de Follow-up Attacks e o All-out Attack. Ambas as mecânicas são relacionadas aos membros do grupo. Ao derrubar um inimigo, feito conseguido ao explorar sua fraqueza, é possível que um dos seus amigos peça para dar follow-up (continuidade), atacando em conjunto e causando um dano ainda maior. Já o All-out Attack acontece quando todos os inimigos são derrubados e envolve todos os membros do grupo atacando ao mesmo tempo.

Vindo de Persona 4, temos a possibilidade de ser salvo por um companheiro de um ataque mortal. Apesar de acontecer com menos frequência, esta é uma introdução no sistema de combate muito boa e ajuda em certos momentos. Outra adição da sequência é a já mencionada possibilidade de controlar o grupo inteiro, o que ajuda bastante em certos duelos.
O sistema de batalha de Persona 3 Portable é bem simples. O jogo possui um pouco de estratégia com o protagonista sendo o único capaz de alterar Personas, cada uma com suas próprias vantagens e desvantagens. Enquanto os duelos normais podem ser finalizados rapidamente, batalhas contra chefes são outro assunto, com alguns — especialmente os que se enfrenta no Tartarus — sendo longo demais por conta da alta defesa e HP.
Explorar o Tartarus em si é talvez a pior parte de todo o jogo. O local não possui variedade e é muito longo em certos momentos. A reta final de exploração da torre envolve vários subchefes seguidamente e inimigos com poucas fraquezas e acaba cansando, especialmente quando você só quer chegar no topo da torre e se preparar para o duelo final.
Um jogo de PSP em um portátil moderno

Persona 3 Portable foi lançado no PlayStation Portable e então portado para o Nintendo Switch. Isso significa que os gráficos deste relançamento não estão de acordo com o que é encontrado em outros títulos disponíveis no aparelho da Nintendo. O último título que analisei para o site, Crisis Core ─Final Fantasy VII─ Reunion é um remake de PSP e mostra muito bem o que seria possível conseguir visualmente no console se a Atlus se esforçasse.
O que temos aqui é um trabalho mais ou menos, utilizando IA para melhorar a qualidade visual das imagens para a nova resolução que a tela do Switch permite. Jogar o título em uma TV grande não é uma boa pedida, contudo, no portátil, não fica tão ruim e recomendo jogá-lo assim, afinal, ele foi lançado originalmente em um aparelho que cabia no bolso.
Gráficos não foram as únicas coisas que a Atlus bagunçou neste relançamento. O som do jogo também está horrível, pior que o lançamento original, com efeitos estourados e alguns muito baixos. O que é uma pena, pois isso afeta as músicas e uma das melhores coisas de Persona 3 Portable é sua incrível trilha sonora, que possui desde animadas músicas cantadas durante as batalhas a temas mais calmos para o dia a dia.
Um jogo de seu tempo

Sendo o jogo que colocou Persona no mapa, Persona 3 Portable é uma experiência que tem seus altos e baixos. A base da fórmula moderna da saga começou aqui e sua idade se mostra com algumas mecânicas defasadas se comparada aos títulos que o sucederam. Dos três relançamentos da série, este será o mais difícil para interessar os novatos que podem ter conhecido Persona através do famoso Persona 5.
O game é lento e, apesar da parte de dating sim ser legal, após um certo ponto fica extremamente limitado em opções do que se fazer, problemas que seriam corrigidos em suas sequências. Persona 3 Portable ainda tem seus momentos de prazer, sua trilha sonora é fantástica e a narrativa tem temas que não são muito explorados em outros jogos do gênero. Este é um título que vale a pena experimentar caso você esteja curioso em saber como a fórmula moderna de Persona surgiu.
Prós
- Trilha sonora fantástica;
- Narrativa apresenta temas interessantes;
- Partes de Social Sim são bacanas inicialmente e oferecem algo diferente do que é esperado;
Contras:
- Jogo se arrasta demais em certos momentos;
- Tartarus é longo e entediante sem muita variação;
- Gráficos não envelheceram bem;
- Social sim na reta final do game é bastante limitada;
- Problemas sonoros e visuais do port podem incomodar.
Nota Final:
7,5
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