
Desenvolvedora: OiCabie
Publicadora: QUByte Interactive
Data de lançamento: 09 de Novembro, 2023
Preço: R$ 14,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com chave cedida gentilmente pela QUByte Interactive.
Revisão: Marcos Vinícius
Quem acompanha o NintendoBoy já deve ter visto que durante a cobertura da BGS 2023, eu escrevi uma coluna falando de alguns indies que joguei durante a feira. Um deles inclusive foi “Bem Feito, que embora tenha experimentado muito pouco, pude entender que era um jogo cuja estética visual remetia a era Game Boy, enquanto o jogo por si só era de suspense/terror.
Eu pude jogar a versão final em antecipado graças a QUByte Interactive, e descobri que Bem Feito vai muito além da impressão superficial que tive na BGS. Ele é um jogo terror que emula o estilo do Game Boy, sobretudo um jogo que emula uma creepypasta ao melhor estilo do início dos anos 2000, onde a internet ainda estava engatinhando e quando as pessoas acreditavam em qualquer tipo de mentira — embora acho que não tenha mudado muita coisa dado a quantidade de pessoas acreditando em fake news por aí.
Creepypastas, o que são?
“Mas Matheus, o que é uma creepypasta?” Você pode estar se perguntando. Bem, creepypastas nada mais são histórias macabras criadas em torno de mitos da internet. No caso dos jogos, muitas vezes acompanhadas de hack ROMs.
Uma das mais famosas para o público Nintendista é a “Ben”, de um cartucho de Majora’s Mask do Nintendo 64, onde contava-se a história que uma pessoa que certa vez comprou uma cópia do jogo usado e em um dos saves tinha o nome Ben; sempre que o novo dono tentava apagar o save ou jogá-lo, coisas bizarras acontecem. Mas aqui, claro, você veio ler uma review de Bem Feito e não ler uma creepypasta antiga de Zelda, certo?.
Um jogo misterioso e esquecido
Em 1999, uma empresa jogos de Minas Gerais, a Megasoft tentou entrar no ramo de videogames com um console portátil, o Jogaroto. O hardware acompanhava o jogo de fazendinha “Bem Feito”, contudo, pouquíssimas unidades dele foram vendidas. Logo, tanto o console quanto o jogo sumiram do mercado e da memória de todos, sendo difícil de encontrar imagens e vídeos pela internet, até que um dia alguém consegue recuperar uma ROM de Bem Feiro e criou um emulador.
Esta é a premissa de Bem Feito, então temos não um jogo e sim um “sistema operacional”, o Garotron OS, que se semelhante a uma tela de Windows, Linux ou macOS com pastas de arquivos, o emulador e até uma lixeira eletrônica.

Dentro da parte do emulador onde jogamos Bem Feito temos um jogo semelhante aos simuladores de fazenda com ciclo de dia, só que bem simples. Nele jogamos com um menino solitário que sempre tem um sorriso no rosto chamado Reginaldo. Na gameplay temos que, basicamente, cumprir uma lista de tarefas diárias que a cada dia do jogo atualiza uma lista que fica presa na porta da geladeira — e é aí que começamos a ver as bizarrices e coisas macabras.
Na lista diária tem sempre cerca de 4 tarefas, como por exemplo: varrer a casa, colher maçãs, regar flores pegar cartas na caixa de correio, e uma última tarefa extra que fica em uma fonte diferente, tremendo como se fosse um arquivo corrompido ou “bugado”. Está ultima tarefa sempre pede algo estranho como olhar no esgoto ou levar uma amiga para nadar no lago. Depois de completar a lista de tarefas diárias, ganhamos um carimbo na lista, um “Bem Feito.”
Tudo concluído, podemos então partir disso ir dormir para ir para o próximo dia. A cada ciclo de dia conhecemos um novo personagem, diferente em personalidade e características físicas, a exemplo de Gertrudes que é uma “menina de fogo” que gosta de flores mas não pode se molhar.

Uma vida calma e nem tão normal
No início da minha jogatina, admito que estava ficando um pouco decepcionado, uma vez que o jogo Bem Feito, dentro do emulador, é muito simplório.
Por uma boa parte do tempo as coisas estranhas pareciam nada de mais, o item bugado da lista como sempre vai estar lá e acabava se tornando algo trivial, ou os glitches que acontecem no esgoto também paravam de surpreender, enquanto os assassinatos ao completar a lista também se tornaram banais, mesmo cada uma sendo diferente. Mas ao completar uma semana dentro do jogo, a magia acontece e vemos o porquê de Bem Feito ser baseado em creepypastas.
Uma semana após de ciclo de jogatina, temos que “jogar” no sistema operacional lendo arquivos sobre a história que circula na empresa Megasoft. Coisas estranhas que acontecem com seus produtos, como bugs, glitches e até situações de quebra de quarta parede estarão em seu caminho a partir daqui.

Falar de Bem Feito é uma tarefa bem complicada sem entrar em spoilers. Das situações que experienciei devo admitir que, mesmo gostando muito dele, não foi uma experiência perfeita. Para conseguir ler alguma das tarefas foi muito difícil, já que a fonte da escrita é fina e fica se movendo. Acaba sendo um desafio desnecessário tentar ler principalmente no modo portátil que é por onde joguei a maior parte do tempo, e olha que eu nem tenho deficiência para enxergar.
Enquanto estiver navegando pelo Garotron, o esquema de botões ficam semelhante a de um Xbox, onde o “B” seleciona e o “A” cancela. No inicio não liguei muito pois é algo que da pra se acostumar, mas dentro do Bem Feito volta o padrão Nintendo de selecionar usando o “A” e B para cancelar. Em momentos dentro do Garotron que temos que acessar alguns arquivos com senha confunde ainda mais, pois selecionamos o arquivo usando B abrindo um teclado numérico do sistema do Nintendo Switch em que usamos o A para selecionar e para confirmar a senha. Ter que usar o B pra realizar esse processo algumas vezes acaba confundindo bastante o jogador.
Bem Feito é, de fato, bem feito
Bem Feito foi uma experiência incrível. Eu fui preparado para tomar susto e ver coisas macabras e no fim estou até agora, enquanto escrevo, pensativo sobre a quantidade de coisas que podem estar escondidas e mistérios a ser resolvido neste “clássico perdido do fim dos anos 90”. Contudo, fiquei mais surpreso de saber que foi feito por pouquíssimas pessoas: cinco, sem contar a equipe que portou para o os consoles.
Prós:
- Experiência única de simulação de creepypasta;
- Evoca com maestria a sensação de desconforto com as bizarrices;
- Belíssimos visuais que remetem à era Game Boy.
Contras:
- Padrão de controles diferentes durante o jogo e fora do emulador;
- Leiturabilidade baixa com os itens bugados da lista de tarefas.