
Desenvolvedora: Inti Creates
Publicadora: Inti Creates
Data de lançamento: 16 de Novembro, 2023
Preço: R$ 149,99
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia cedida gentilmente pela Inti Creates.
Revisão: Davi Dumont Farace.
Posso dizer tranquilamente que a Inti Creates hoje é referência no que diz respeito a jogos de plataformas de ação de rolagem lateral. Seu know-how, vindo lá do GBA, com Mega Man Zero, permitiu ao estúdio manter um legado atualmente sustentado por estúdios independentes, incarnando experiências de outrora com títulos originais e de qualidade incontestável.
Azure Striker Gunvolt colocou a Inti Creates no radar dos aficionados pelo gênero em 2014, dando a ela a visibilidade no mercado que Gal☆Gun sequer conseguiu fazer. Indo até mais longe, arrisco dizer que o estúdio fez os fãs colocarem em cheque a reputação de Keiji Inafune, o pai de Mega Man, após ele lançar Mighty No. 9, em uma disputa quase direta entre sucessores espirituais, resultando no que seria um dos maiores fracassos da história dos videogames.
Mas olha, eu não estou aqui para falar de sua ascensão, e sim exaltar seus feitos pós-Gunvolt, porque depois da notável duologia no Nintendo 3DS, o estúdio seguiu firme com outros projetos que exploravam diferentes caminhos do gênero. Blaster Master Zero por exemplo, surgiu como uma reimaginação do clássico da SUNSOFT de 1988. Depois vimos Bloodstained: Curse of the Moon com atraentes visuais 8-bits adotando o estilo classicvania em contraste com Ritual of the Night, de Koji Igarashi. Mais tarde até sua clássica série de rail-shooter, Gal☆Gun seria reinterpretado.
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Então chegamos a Yohane the Parhelion, uma série de anime para TV com homólogos de Love Live! Sunshine!!, situado em um mundo de fantasia, sendo está a primeira vez que a Inti Creates converte uma outra mídia de entretenimento para videogames. O resultado? De antemão já digo que foi relativamente bem-sucedido, com elementos daquele mundo transportados de maneira concisa e criativa, mas que há tropeços pontuais aqui que não podem ser passados despercebidos.
Afinal, precisa assistir ao anime antes?
Vamos logo tirar o elefante da sala, certo? Bem, sabendo que BLAZE in the DEEPBLUE estava predestinado para mim, tomei a liberdade de antes assistir ao anime de Yohane the Parhelion disponível na Crunchyroll — eu posso fazer isso de consciência limpa pois possuo uma carteirinha de “assistir anime sem ser otaku” em dia, então não confunda as coisas.
Ademais, tenho ciência que geralmente tais conversões para videogames costumam criar uma história independente em vez de adaptar o material preexistente a risca. Como sou precavido para estas coisas, acompanhei os 13 episódios de Yohane the Parhelion -SUNSHINE in the MIRROR– no conforto da minha cama, streamando no meu Nintendo Switch, — e sem ser otaku, é claro — buscando apenas por algum viés para caso de eu perder alguma referência no jogo. E eu não poderia estar mais certo sobre isso.
Em uma breve contextualização: Em Yohane the Parhelion acompanhamos Yohane, que volta para sua terra natal, a cidade costeira de Numazu, após fracassar no seu objetivo de engrenar na carreira de cantora na cidade grande.
Ela passa a interagir um elenco alternativo do grupo Aqours, de Love Live! Sunshine!!, enquanto trabalha como “faz-tudo”, quero dizer, cartomante, para o seu sustento. Ao decorrer da história, Yohane recebe um cajado mágico que pode ser a chave para acabar com uma força maligna desconhecida que vem ameaçando a paz em Numazu.

Sem me aprofundar tanto em outros aspectos do anime, a questão é que BLAZE in the DEEPBLUE se vê malsucedido ao apresentar Yohane e seu grupo amigos de maneira orgânica, deixando dúvidas àqueles que compraram o jogo sem antes assistir o anime. O jogo desde o início pressupõe que você já tenha assistido SUNSHINE in the MIRROR enquanto flerta com referências em diálogos e nos elementos de jogo que, pasmem, você só vai pegar se tiver acompanhado o desenho. No entanto, tudo se resolveria se houvesse um Sumário no Menu de opções, embora não seja o caso.
Não acho que isto prejudica completamente sua experiência. Os elementos narrativos também são ínfimos, mas não no sentido ruim, então dá pra relevar pelo fator gameplay. Contudo, se há o mínimo de narrativa num jogo, é importante deixar jogadores menos familiarizados bem informados sobre qualquer coisa que envolva o material original, sútil ou não. Acredito que como um jogo pela sua essência, BLAZE in the DEEPBLUE se comporta de forma isolada a ponto de ser convidativo por si só, mas àqueles que assistiram SUNSHINE in the MIRROR o aproveitarão ainda mais por já estarem familiarizados pelo cativante elenco de personagens e pela lore.
Metroidvania Meets Love Live
É isso mesmo, BLAZE in the DEEPBLUE é um plataforma de ação estilo metroidvania. Não tem erro: mapas para explorar, com backtracking e sistemas de upgrades etc. Dito isso, o jogo coloca Yohane e sua companheira canina Lailaps em uma enigmática dungeon submersa, em prol de resgatar suas amigas que foram arrastadas para lá.

Inicialmente, Yohane conta apenas com as garras afiadas de Lailaps para conter os monstros que espreitam à masmorra. Ela poderá usufruir das habilidades de suas companheiras à medida que são salvas dos bosses do mapa. Tais habilidades inclusive esbanjam individualidade e características que remetem ao anime — ressaltando o que eu disse sobre o jogo se prender demais aos detalhes de SUNSHINE in the MIRROR.
Contando com Lailaps, atrelada a Yohane desde o início, temos outras oito habilidades representadas pelas meninas que devemos ir atrás. A variedade de uso é notável, algumas são só ofensivas, outras bastante específicas que servem para ampliar o acesso ou remover hazards no cenário. Mas independente destas diferenças, todas podem receber um upgrade ao realizar uma tarefa concebida à Yohane, onde você deve retornar a mapas que já atravessou atrás de um item particular que, novamente, brinca com referências ao anime.

Para além das supracitadas habilidades, Yohane tem acesso a um menu de equips com quatro slots, dois disponíveis inicialmente. Estes slots são reservados para armas que a protagonista pode criar na sessão de Craft, tal como acessórios que aumentam seus base stats ou geram alguma resistência elemental. Em relação as armas, elas consomem PS para o uso, mas não possuem tempo de recarregar — eu não citei isso antes, mas também vale para as habilidades, e se caso estiver sem PS, você passará a perder Pontos de Vida (PV) em vez disso.
Em suma, temos a habilidade especial de Yohane, o “Musical Score”, que durante um curto período de tempo ela pode desferir golpes com 100 por cento de chance de crítico e nenhum de seus ataques consumem PS. A habilidade é ativada automaticamente após seu PV chegar a 0, bem similar ao “Song of Diva” em Azure Striker Gunvolt, mas com uma aplicação diferente. Contudo, o Musical Score é uma habilidade na forma de um item de uso único raramente dropado por monstros — na minha opinião é uma restrição justa para não quebrar a dificuldade do jogo.

Como podem observar, Yohane possui um moveset diversificado e expansível que dinamiza a exploração e o embate com os monstros sem torná-lo enjoativo. A forma como a Inti Creates elaborou o movepool de forma criativa ao integrar as demais personagem ao corpo de Yohane foi bem preciso, uma vez que no anime ela não ostenta de talento para combate. Ademais, já que eu citei o Musical Score como uma característica parecida com a ideia do Song of Diva de Azure Striker Gunvolt, esta não é a única inspiração vinda dele. Irei elaborar mais sobre isso no próximo tópico.

Hey, isso me lembra algo
É claro, não posso deixar de falar do design de fases. Afinal, como estamos falando de um metroidvania, é importante que os cenários apresentados sejam labirínticos o suficiente para deixar o jogador instigado a explorar cada canto minunciosamente.

Em BLAZE in the DEEPBLUE, os cenários da dungeon são divididos em áreas interligadas com biomas distintos, sem qualquer desafio de plataforma, centrado na exploração e em algumas resoluções de puzzles enquanto enfrentamos monstros pelo mapa. No entanto, eu senti que o design dos mapas não são tão inspirados, com templates de cenários marítimos, vulcânicos, áridos ou qualquer outra coisa que você lembre de já ter visto em alguma plataforma de ação convencional.
Contudo, o mesmo não pode ser dito em relação ao estilo artístico pixelado de BLAZE in the DEEPBLUE, marca registrada para os jogos de ação e plataformas da Inti Creates. Mas olha, eu não sou lá o maior entusiasta de visuais em pixel estilo retrô, porém tenho vivência o suficiente para olhar e reconhecer quando o trabalhado é bem feito, e aqui, como de praxe, a aplicação é magistral, destacando o modelo dos personagens centrais, design de monstros, e o design dos bosses.
E por falar nos bosses, lembra quando eu disse que existe uma outra similaridade em BLAZE in the DEEPBLUE com Azure Striker Gunvolt? Então, aqui a batalha contra chefes segue quase que a mesma fórmula de combate de GV, com exceção da movimentação mais contida de Yohane. O desafio está em decorar os padrões de movimento e desviar dos golpes no momento certo antes de revidar. Portanto, os bosses não são do tipo “força bruta” em que morremos após levar dois ou três hits, em vez disso é preciso ter bons reflexos e tempo de reação.

Contudo, algo digno de nota é o fato de que BLAZE in the DEEPBLUE não possui um bom valor de replay. Mesmo após zerar pela primeira vez e ir atrás de todos os itens que dão habilidades secundárias às amigas de Yohane, não foi desbloqueado nada adicional, como modos extras por exemplo. O que sobrou foi um Boss Rush que pode ser acionado no momento que quiser depois de concluir o jogo pela primeira vez, embora a essa altura do campeonato você já estará completamente overpower, lidando mais facilmente com os chefes do que antes.
No geral, BLAZE in the DEEPBLUE é bem fechadinho mesmo, e não parece disposto a querer que os jogadores retornem a ele depois de uma run bem-sucedida, mas suspeito que isso pode mudar em potenciais updates de pós-lançamento. Apesar disso, ele ainda entrega o que promete, é bem executado e irá lhe proporcionar alguma diversão seja explorando a dungeon, indo atrás dos upgrades e armas/acessórios “craftátveis”, ou lutando contra chefes desafiadores.
Os weebs da Inti Creates mandaram bem!

Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- vai muito além de uma conversão barata de anime para videogame. O pedigree da Inti Creates ajudou a torná-lo uma experiência premium de metroidvania e uma recomendação segura para fãs alucinados.
No entanto, vale ressaltar que BLAZE in the DEEPBLUE pode não ter muito a oferecer no pós-game, com apenas o supracitado Boss Rush para repetir quando der vontade. A falta de modos complementares e ajustes de dificuldades pode ser desapontante para quem busca extrair mais do jogo, mas de modo geral eu diria que ele ainda cumpre bem seu papel em proporcionar uma experiência genuína dentro do que ele se propõe a ser.
Em relação a sua ligação com o anime SUNSHINE in the MIRROR, novamente, se você busca apenas pela jogatina você não sairá tão prejudicado, uma vez que a narrativa é mais voltada ao núcleo da dungeon do que as propriamente ditas referências ao anime. Na qualidade de não-otaku, digo que ele perde pontos ao aplicar tais referências sem algum material adicional para contextualização, beneficiando apenas àqueles que assistiram a série animada antes de jogá-lo, como foi meu caso.
Por fim, dado as ressalvas, Yohane the Parhelion -BLAZE in the DEEPBLUE- é convidativo tanto para quem busca por um bom metroidvania quanto para fãs que desejam ampliar seu conhecimento com Yohane the Parhelion/Love Live por meio de outras mídias.
Prós:
- Level design competente;
- Moveset dinâmico torna a experiência menos enjoativa e mais instigante;
- Design artístico em pixel-art são muito bem trabalhados;
- Estar em português do Brasil o torna mais acessível mesmo que a narrativa não seja o seu forte.
Contras:
- O baixo fator de replayatividade, a falta de modos alternativos e ajuste de dificuldade pode decepcionar jogadores mais hardcore;
- As referências ao anime em diálogos pode dificultar o entendimento de jogadores não familiarizados.
- Cenários pouco inspirados.
Nota Final
8
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