
Desenvolvedora: Inti Creates
Publicadora: Inti Creates
Data de lançamento: 23 de fevereiro, 2023
Preço: R$114,29
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Inti Creates.
Revisão: Marcos Vinicius
A Inti Creates começa 2023 com uma aventura side-scrolling 2D que une o lado mais esquisito da companhia com o gênero que a fez criar fama ao longo dos anos. Gal Guardians: Demon Purge é o resultado dessa união, trazendo o universo de Gal☆Gun, sua franquia shooter on-rail com ecchi, para o mundo de jogos de ação que fez o estúdio japonês ficar famoso.
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As caçadoras de demônios entram em ação

A aventura em Gal Guardians: Demon Purge começa como um dia normal para as irmãs Maya e Shinobu Kaminozo, que estão a caminho de sua escola. Antes que as jovens consigam entrar no local, uma transformação radical acontece e o colégio é transformado em um castelo dentro do mundo dos demônios.
As irmãs logo descobrem que se trata de uma nova peça feita pela demônia Kurona, como uma vingança contra as jovens. A dupla então decide usar suas habilidades como caçadoras de demônios para dar uma lição em Kurona e salvar os estudantes pegos na transformação.

Precisando chegar ao topo do castelo, a dupla se depara com vários demônios, incluindo alguns extremamente poderosos que se fundiram a certas garotas. As irmãs vão precisar superar vários desafios, incluindo armadilhas e inimigos, para poder chegar até Kurona e fazer com que a escola volte ao normal.
É uma narrativa bem direta e sem muita coisa esquisita, ou com teor sexual como o encontrado em Gal☆Gun. Existe um pouco de humor nas curtas interações entre as irmãs, as garotas que são resgatadas a cada chefe derrotado e Kurona, mas tirando isso, é algo bem comum, o que foi uma surpresa para mim.
Você esperava um jogo sério, mas era ele, Gal☆Gun!

Com 7 estágios, Gal Guardians: Demon Purge é um jogo bem curto e “sério”. Ao menos é o que eu achava até ter derrotado Kurona e a verdadeira face do jogo aparecer. Logo quando a demônia é derrotada, temos a revelação de que ela apenas estava sendo usada por outra pessoa, com essa verdadeira inimiga sendo ninguém menos que a própria Kurona do futuro.
A versão adulta da diabinha quer vingança contra as irmãs por todas as vezes que elas acabaram com suas travessuras no passado. Como parte de seu processo vingativo, a demônia envia as heroínas para o início da aventura e as obriga a subir o castelo de novo, passando pelos mesmos locais de antes.
É exatamente como você leu, o jogo te obriga a passar pelos mesmos cenários de novo, sendo obrigado a enfrentar os mesmos inimigos e chefes. A única diferença é que dessa vez alguns caminhos novos se abrem e temos um segundo objetivo. Houdai, o herói de Gal☆Gun: Double Peace, e amigo de infância das irmãs (que possui sentimento por ambas, assim como elas por ele), foi transformado em um pilar gigante e precisa de cinco itens, que “Fazem qualquer adolescente masculino ficar animado”, para poder abrir o caminho para Kurona.

Se a primeira run do jogo era uma cópia interessante de Castlevania, esta “segunda run” é basicamente, Gal☆Gun em 2D. O humor cômico da série fica evidente aqui, assim como as piadas eróticas. Os itens são roupas íntimas femininas, e uma revista porno, Kurona pergunta se as irmãs querem se vestir com roupa de coelhinho, as garotas que são salvas acham que Shinobu é uma pervertida, e por aí vai. Já era de se esperado, visto que este jogo é um spin-off de Gal☆Gun.
Aliás, isso é algo que é preciso mencionar. Apesar de ser um spin-off de Gal☆Gun, e poder ser aproveitado sem conhecimento prévio daquela série, Gal Guardians: Demon Purge é uma continuação das aventuras ecchis. As garotas resgatadas após cada boss derrotado são as heroínas dos três jogos da franquia Gal☆Gun e os eventos de Double Peace são mencionados. Como tal, ter experimentado a franquia principal ajuda a dar um pouco de entendimento nas curtas interações entre as irmãs e as outras personagens.
As irmãs estão armadas

Cada uma das irmãs Kaminozo possui suas próprias armas, sendo preciso saber alternar entre ambas no momento certo para poder superar inimigos e obstáculos. Shinobu tem mais vida que sua irmã mais nova, além de utilizar sua metralhadora, que precisa ser recarregada, para derrotar inimigos à distância. Já Maya ataca de perto com poderosos golpes que usam origami como armas, além de ser pequena o suficiente para poder passar em locais apertados, com sua desvantagem sendo sua pequena barra de energia.
A dupla adquire novas sub-armas e habilidades conforme a aventura vai prosseguindo. Assim como em jogos da série Castlevania, a utilização de tais sub-armas requer uma certa munição para utilizá-las, com cada uma requerendo uma quantidade exata de munição. Além disso, algumas das sub-armas também funcionam para ajudar as irmãs atravessar o castelo.

Apesar de ser útil contra os inimigos normais, as sub-armas são quase inúteis contra os chefões do jogo. Mesmo após conseguir realizar upgrade nas mesmas, através de uma das heroínas resgatadas e só durante a “segunda run”, elas ainda tiram um dano bem mínimo em relação aos ataques normais. Isso tira um pouco da sensação de que estamos ficando mais poderosos, algo que geralmente acontece em jogos onde você adquire uma arma nova de um chefe derrotado.
Assim como nos jogos da série Castlevania após Symphony of the Night, existem segredos para serem localizados nos estágios. Algumas melhorias estão disponíveis para serem encontradas, como aumento na vida, ataque e defesa das heroínas. Além disso, também é possível encontrar estudantes em situação arriscada, que restauram sua vida.
Ao iniciar o jogo, e a qualquer momento no menu, é possível escolher uma das duas dificuldades diferentes: Veterano e Casual. A primeira, faz o jogo ser jogado como um Classcivania, temos um sistema de vida, knockback e uma dificuldade um pouco mais elevada. Já o segundo é mais inspirado nos Metroidvanias, com vidas ilimitadas e sem knockback ao ser acertado por inimigos.

Também é possível selecionar se quer jogar em dupla com outro jogador, ou sozinho. Sozinho, o jogador tem controle sobre ambas as irmãs, podendo alterá-las com um toque dos gatilhos ZR/ZL. Só é possível realizar tal ação quando está no chão parado, o que limita um pouco as opções e possibilidades de combinação dos ataques das irmãs.
Por fim, as irmãs podem realizar um ataque especial envolvendo uma bala mágica. Tal ataque derrota todos os inimigos presentes na tela, além de causar um alto dano aos chefes. Para realizá-lo, é necessário preencher uma barra especial, que é preenchida com a coleta de itens especiais que também aumentam o número de vidas no modo veterano, e então ativá-lo no chão com um botão. É preciso ter cuidado com a utilização de tal técnica, pois o disparo só acerta aqueles que estão na frente das irmãs e os demônios podem acabar desviando.
Uma crise de identidade

Desde sua revelação, Gal Guardians: Demon Purge me passava uma vibe de ser inspirado nos títulos da franquia Castlevania. Jogando-o, fica ainda mais óbvio que a série da Konami foi uma das principais, se não a principal influência do game. A estética gótica está presente, assim como o visual e animação das irmãs, vários inimigos aqui são arquetípicos de oponentes da saga da Konami – como as medusas heads – e até mesmo certos momentos da aventura que são cópias 1:1 de cenas clássicas da saga de caçadores de vampiros.
Como a Inti Creates já possui experiência de trabalhar em um jogo inspirado em Castlevania, os dois Bloodstained: Curse of the Moon, não é de se estranhar a facilidade da companhia em transformar Gal☆Gun em um jogo dessa estética. Obviamente, existe um certo exagero para se sobrepor sobre o estilo de arte da franquia original, sangue e monstros sendo decapitados são situações constantes, mas ainda existem bastantes elementos visuais e sonoros que são bem remanescentes dos títulos ecchis.
O principal problema, contudo, é que Gal Guardians: Demon Purge sofre de uma crise de identidade. O game espera que os jogadores de Gal☆Gun, uma experiência mais relaxante e cômica, se divirtam com a alta dificuldade do título e desafios que podem ser frustrantes em certos momentos.

O design do jogo também não sabe ao certo qual é sua principal fonte de inspiração. Para aqueles que conhecem a série Castlevania, sabe que a franquia é separada em dois tipos de jogos: Classicvania, com fases curtas e cheias de desafios, e Metroidvania, um grande local para explorar – geralmente um castelo – cheio de segredos para serem descobertos e que incentiva a exploração.
Gal Guardians: Demon Purge possui 7 estágios, com um extra que é apenas algumas salas até o boss final do jogo. Cada fase do jogo é longa, possuindo vários caminhos alternativos que podem ser encontrados em sua primeira visita ou ao revisitá-lo mais tarde durante a aventura. Cada estágio é separado por um curto corredor, que possui um pilar que permite a transportação para outro corredor.

Os estágios são longos demais para serem comparados a um estágio de um classicvania, mas não são interligados o bastante para serem considerados um único Metroidvania. O grande problema do game é que ele tenta realizar a mistura de ambos os estilos, mas sem tentar fazer um jeito de ficar bom para o jogador. Não existe um mapa de área, a única coisa possível de se fazer é apertar o gatilho direito para uma “bússola” surgir na tela e guiar até o boss, e mesmo os estágios possuindo caminhos alternativos, só há uma entrada e saída.
O resultado é um game que tenta agradar vários tipos de jogadores, mas acaba não conseguindo. Até para os padrões de jogos 2D da Inti Creates, ele está um pouco abaixo do que a companhia costuma produzir, seja visualmente e sonoramente. Por falar nisso, o game oferece opção de dublagem em inglês e japonês, com as irmãs falando sempre que atacam. Só existem no máximo duas frases para cada ataque, ou seja, rapidamente fica chato ouvir a mesma coisa toda vez que você apertar o botão. A música em si também não é nada boa, sendo nenhum um pouco memorável, uma pena, visto que seu compositor é o mesmo de outras trilhas melhores da Inti Creates, como a saga Mega Man Zero.
Irmãs Kaminozo, fica para a próxima

Gal Guardians: Demon Purge é um spin-off de uma franquia ecchi e sua qualidade final acaba demonstrando muito bem isso. Se comparado a outros jogos 2D da Inti Creates, como a série Azure Strike Gunvolt, é notável a queda de qualidade. Apesar de possuir uma boa jogabilidade, a combinação de seus elementos visuais, sonoros e escolhas de design acabam estragando o que poderia ser uma boa experiência.
Estar ligado a série Gal☆Gun traz uma certa bagagem que a Inti Creates poderia muito bem ter utilizado para subverter as expectativas. A primeira parte do enredo estava bem interessante, mostrando um lado que a franquia principal havia apenas implicado. Contudo, muito mais do que seu lado pervertido, o game peca em não se decidir sobre o que quer ser e seguir a partir deste ponto.
Prós
- Boas animações e spritework;
- A jogabilidade diferente das irmãs traz um pouco de estratégia a ação;
- Itens extras incentivam a exploração.
Contras:
- Falta de um mapa atrapalha demais na hora da exploração;
- Jogo te obriga a revisitar os mesmos estágios com os mesmos desafios e chefes sem muitas novidades;
- Desafio às vezes pode ser injusto;
- Apesar de duas personagens diferentes, a jogabilidade é limitada, com poucas opções de combinações;
- Trilha sonora é bem fraca se comparada a outros jogos de ação da Inti Creates.
Nota Final:
6,5