Desenvolvedora: Capcom
Publicadora: Capcom
Gênero: Aventura, Coletânea
Data de lançamento: 06 de setembro, 2024
Preço: R$ 201,00
Formato: Digital, Físico
Análise feita no PC com cópia fornecida gentilmente pela Capcom.
Revisão: Marcos Vinícius
Ace Attorney dispensa apresentações. A série de jogos Adventure extrapola seu nicho, com variados memes, adaptações e um grande número de jogos e spin-offs. O leitor muito provavelmente já viu um gif retratando Nick Phoenix Wright ensopado de suor após tentar extrair qualquer contradição de um testemunho de um papagaio em corte, ou já ouviu o característico OBJECTION!, jargão principal dessa tão amada franquia.
Nos últimos anos, a Capcom fez um esforço notável em resgatar toda a série em relançamentos de consoles modernos, incluindo a coletânea lançada no início do ano com os jogos 4, 5 e 6 e até Ghost Trick, que apesar de não pertencer à serie merce a menção por ser obra do criador da franquia Shu Takumi. Sendo assim, uma coletânea com os spin-offs Investigations, do Nintendo DS, era aguardado com esmero, principalmente quando levamos em consideração que o segundo jogo nunca foi lançado no Ocidente.
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Mudando a fórmula (mas nem tanto)
Investigations é um título importante para a história de desenvolvimento da série. Afinal, trata-se dos primeiros jogos desenvolvidos por uma equipe sem a direção direta de Shu Takumi, que viria inclusive a passar a produzir os jogos principais a partir do quinto jogo. Aqui, acompanhamos séries de crimes investigados pelo promotor mais querido da série: Miles Edgeworth, rival e companheiro de Phoenix Wright principalmente no primeiro jogo, mas que retorna em sucessores sempre de forma inesquecível.
Em termos narrativos, e sem entrar em spoilers, os jogos preenchem certos hiatos de aparições que não necessariamente precisavam ser preenchidos, mas que dão uma enriquecida no universo principalmente porque conseguimos ver o relacionamento de personagens já conhecidos sem a presença dos advogados de defesa que sempre pautam nossa perspectiva.
O interessante é que, ao se afastarem do cenário de tribunal, os desenvolvedores precisaram criar uma experiência focada na investigação mas ainda mantendo a essência e o fluxo de descobertas que move a trama típica de um jogo Ace Attorney. Assim, o campo antes fixo e unidimensional onde as investigações se passavam se expande em uma zona tridimensional. Do cursor, passamos a controlar um personagem, que analisa a cena em seus vários cantos e colhe provas de forma mais intuitiva.
Além do upgrade nas investigações, os jogos adaptaram as sequências de testemunho do tribunal de forma bem orgânica. Aqui, em certos momentos precisamos interrogar certos personagens, e nessas sequências podemos, como nos originais, pressionar os personagens e tirar novas informações de testemunhos antigos, ou apresentar provas que evidenciem contradições. Assim, novos fatos vão sendo trazidos à tona, podendo ser utilizados na mecânica de lógica. A qualquer momento, podemos unir fatos e, caso a união faça sentido, podemos deduzir uma informação nova.
A mecânica de lógica particularmente dialoga muito com uma ansiedade muito pessoal, referente aos demais jogos da série: quando o jogo está comunicando algo que o jogador já deduziu há um tempo, tornando a sequência de certa forma maçante, resultando em um pressionar de botões mais frenético para avançar mais rapidamente pela história. Ainda assim, mesmo nesses momentos Ace Attorney consegue transformar a experiência em algo agradável pelos trocadilhos e pelo charme dos personagens, algo que aqui é muito bem preservado por uma equipe que conhece e respeita o material original.
Um pacote impecável
Reservo dois dedos de prosa em relação ao pacote. Repetindo os feitos das coletâneas anteriores, a Capcom fez um exímio trabalho de preservação, remasterizando assets criados para a diminuta tela do DS e tornando-os legíveis em plataformas modernas, além de recriar todas as animações dos personagens em assets HD chibi, que podem ser trocados a qualquer momento pelos assets pixelados originais dos anteriores. É um detalhe que enriquece em demasiado a experiência geral, e que francamente não pode ser deixado de lado; um novo investigations com esse estilo seria incrível.
Além das qualidades de vida de costume (mudança na velocidade do diálogo, uma opção de auto-play e cursores que indicam se certos espaços ainda podem ser interagidos), o pacote ainda apresenta uma extensa galeria de arte, incluindo concepts, além de disponibilizar a soundtrack e uma listagem de conquistas.
No geral, a Capcom está fazendo um excelente trabalho com as coletâneas da série, com cada lançamento representando novas melhorias. Agora, com todos os jogos relançados (exceto o crossover com Prof. Layton), esperamos que não tarde a ser anunciado o tão aguardado Ace Attorney 7.
Um brinde à preservação
As conversas à respeito de remasters e remakes sempre acabam giando em lugares-comuns. A precificação sempre parece excessiva, a escolha de remasters muitas vezes é questionada e remakes nos fazem pensar como a escassez de certos títulos no mercado parece proposital, criando sempre uma demanda reprimida pronta a gastar seu dinheiro em uma cópia.
Ainda assim, cada esforço em preservar a história de mídia digital precisa ser louvada. Hardwares antigos e jogos restritos geograficamente representam bibliotecas que se perdem com o tempo, empobrecendo a cultura criada por agentes criativos. E com isso em mente, é interessante perceber como, pessoalmente, estou cada vez mais dando valor a coleções desse tipo do que lançamentos propriamente ditos.
Disponibilizar qualquer jogo a todos os públicos a todo o instante parece um desejo utópico, mas acredito que trabalhos como os que a Capcom vem fazendo auxiliam nessa missão de preservação. Aos poucos, podemos sonhar em nos encaminhar para um futuro onde honramos cada vez mais nosso passado.