Desenvolvedora: Capcom
Publicadora: Capcom
Gênero: Luta, Coletânea
Data de lançamento: 11 de setembro, 2024
Preço: R$ 275,00
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Capcom.
Revisão: Marcos Vinícius
Em meados dos anos 90, a Capcom — em parceria com a Marvel Comics — produziu vários títulos que exploravam os universos das duas empresas em excelentes e insanos jogos de luta que faziam uso da então poderosa placa CPS2.
Apostar as fichas no rol de heróis da Marvel se provou um grande acerto e levou os jovens à loucura ao experimentar os títulos nos fliperamas mundo afora. Esses crossovers subverteram a dinâmica mais contida dos tradicionais jogos de luta da Capcom, como Street Fighter. E traziam sprites de animação belíssimos de personagens já consagrados e carismáticos, um novo sistema de batalha que dava mais agilidade ao gameplay, melodias envolventes e especiais que ocupavam quase a tela toda.
Confinados às antigas máquinas de Arcades e a consoles já há muito descontinuados, a Capcom retomou a parceria com a lendária empresa de HQs para resgatar títulos do século passado e apresentá-los a uma nova leva de jogadores e também para os fãs de longa data que, agora, possuem uma forma oficial para experimentar esses jogos, com alguns acréscimos interessantes.
Em meio ao debate, cada vez mais presente na indústria de videogames, sobre a necessidade e importância da preservação de jogos, a coletânea MARVEL vs. CAPCOM Fighting Collection: Arcade Classics acerta em cheio, ao trazer para os consoles atuais os clássicos crossovers que foram febre naquela época.
The Punisher, X-Men Children of Atom e Marvel Super Heroes
A coletânea conta com sete títulos: X-Men Children of the Atom; Marvel Super Heroes; X-Men vs. Street Fighter; Marvel Super Heroes Vs. Street Fighter; Marvel Vs. Capcom Clash of Super Heroes; Marvel vs. Capcom 2 New Age Heroes; e o diferentão do rolê The Punisher.
Para todos os efeitos, todos os títulos presentes são exatamente as mesmas versões que saíram para os Arcades na época. A diferença é que aqui podemos programar a experiência de cada jogo de acordo com a nossa necessidade, seja diminuindo ou aumentando dificuldade e a força de ataque, liberando desde o início personagens secretos e por aí vai. Salvo isso, podemos optar pela versão do jogo que queremos jogar: japonesa ou americana.
A primeira empreitada da Capcom nesse universo se deu com The Punisher. Diferente dos outros títulos presentes (todos jogos de luta), trata-se de um beat’em up, desenvolvido para os Arcades, em 1993. O jogo narra a jornada de vingança de Frank Castle, que é ajudado por Nick Fury, na caçada a Wilson Fisk, o Rei do Crime.
Nessa época, a Capcom já possuía clássicos do gênero como Cadillacs and Dinosaurs, Captain Commando e Final Fight. O trabalho em The Punisher manteve a excelência vista nos outros títulos da empresa japonesa. O jogo contou também com um port para o SEGA Mega Drive, em 1995, que apesar de ter sido publicado pela Capcom, foi desenvolvido pela finada Sculptured Software.
No ano seguinte, a Capcom lançou aquele que deu início a junção dos mundos da Marvel e Capcom. Trata-se de X-Men Children of Atom, de 1994. Aqui, os mutantes da Marvel são colocados para trocarem sopapos uns com os outros até a luta final contra o poderoso Magneto. Toda dinâmica que será vista no primeiro encontro entre os personagens da Marvel e da Capcom está presente no título: super pulos, combos aéreos, defesa aérea, especiais gigantes etc.
Porém, as lutas seguiam o modelo clássico de batalha um contra um. Em 1995, foi lançado um jogo que ampliava um pouco mais o universo de personagens da Marvel e que explorava a Saga do Infinito. Os heróis foram colocados numa batalha para deter os planos de Thanos. Marvel Super Heroes — que teve um competente port para SNES — acrescentava um buff de poder, durante o gameplay, que poderia ser acionado usando as Jóias do Infinito.
X-men vs. Street Fighter e Marvel Super Heroes vs. Street Fighter
X-Men vs. Street Fighter colocou, pela primeira vez, os personagens das duas maiores franquias lado a lado para lutarem. Aqui somos apresentados ao combate em duplas. O objetivo é zerar a barra de vida dos dois oponentes.
No jogo podemos alternar entre os dois personagens a qualquer momento (Crossover Attack) ou chamá-lo para ajudar num golpe (Crossover Assist) que facilita nossa aproximação para iniciar um combo. Até mesmo especiais podem ser desferidos em dupla, desde que tenhamos, pelo menos, duas barras de especial.
O port desse título para o PlayStation contava com algumas limitações como, por exemplo, a impossibilidade de trocar de personagem a qualquer momento. Isso só seria possível se o adversário tivesse escolhido a mesma dupla que você. A versão do SEGA Saturn, por outro lado, devido ao cartucho de expansão de memória, contava com a mesma versão dos arcades. Porém, o jogo só foi lançado no Japão.
A partir do lançamento de X-Men Vs. Street Fighter, outros crossovers foram dando as caras quase que anualmente. No processo, a base de sprites de alguns personagens já desenhados para outros títulos foram reaproveitadas. Facilitando, creio, o processo de desenvolvimento. Outros foram criados do zero, seguindo um design fiel a obra que os inspirou.
Em Marvel vs. Street Fighter (1997), por exemplo, sprite de personagens de Street Fighter Alpha foram aproveitados, assim como no crossover anterior. Os cenários, no entanto, foram retrabalhados e novas animações, quando os especiais eram aplicados, foram inseridos. Mas, segue sendo o título menos badalado dos crossovers lançados na época.
Marvel Vs. Capcom e Marvel Vs. Capcom 2
Mavel vs. Capcom e, em especial, Marvel vs. Capcom 2 são as estrelas dessa coletânea. O primeiro título de 1998 acrescenta algumas possibilidades que não estavam presentes nos títulos anteriores, como um terceiro personagem (special partner) randômico, entre vinte opções, que pode ser usado um número determinado de vezes, durante a partida, para desferir um ataque no adversário. E também o Duo Team Attack, em que controlamos os dois personagens escolhidos ao mesmo tempo. Nesses instantes, o uso de especiais é livre.
Já Marvel vs. Capcom 2, lançado em 2000, é um dos jogos mais queridos de todos os crossovers já lançados pela Capcom e é figura cativa até os dias de hoje em campeonatos como a EVO. O tema de seleção de personagens “I Wanna Take You for a Ride” é um dos mais icônicos de qualquer jogo de luta. E a quantidade de personagens disponíveis para se selecionar é incrível e conta com mais de cinquenta opções. Basicamente, todos os personagens vistos nos jogos anteriores que a Capcom havia desenvolvido estão presentes neste título.
Aqui, podemos selecionar três personagens, ao invés de dois, e escolher o comportamento do nosso herói — entre três variações — quando for nos dar uma assistência em combate. Os botões de ataque e combos foram simplificados. Ao invés de três botões de soco e três de chute, temos apenas dois de cada. Usando uma barra de especial, podemos também expulsar um adversário, forçando a substituição por um outro de sua party. Uma boa estratégia caso esteja tendo dificuldade com ele. E existe a possibilidade de desferir um especial triplo ou de emendar um especial no outro acionando o seu parceiro. Enfim, é um jogão que envelheceu super bem.
Novidades da coletânea
De novidade, temos um modo Online com rollback netcode que pode ser configurado manualmente pela gente. Particularmente, preferiria que essa configuração fosse determinada automaticamente pelo jogo ao analisar a velocidade de nossa rede. Mas, não compromete.
Ao entrar no online, definimos quais jogos estamos dispostos a competir e a escolha acontece de forma randômica. Aqui, podemos criar salas, entrar em salas públicas ou privadas e participar de partidas casuais ou ranqueadas. A experiência é bem tranquila — por conta do rollback netcode — e é fácil encontrar algum adversário de forma aleatória pelos menus. Para uma melhor performance é aconselhável buscar por adversários que estejam na mesma região que a gente.
Salvo o modo Online, temos também um modo Treino, com visualizador de hitbox, para aprender as mecânicas de cada jogo, o alcance dos golpes e testar combinações de personagens que casam mais com a sua forma de jogar. Há ainda algumas poucas opções de filtros (que atuam mais como um controle de brilho e contraste na maioria das vezes) e de tamanho de tela.
Não aconselho aumentar os sprites para o padrão 16:9 dos televisores atuais. Perde charme e, principalmente, qualidade. Alguns desafios que desbloqueiam troféus e conquistas também estão presentes. Outro acréscimo interessante é a galeria de artes de MARVEL Vs. CAPCOM Collection, que conta com belas imagens, artes conceituais, campanhas publicitárias e documentos de desenvolvimento de cada um dos jogos; e um menu que nos dá acesso às mais de 200 faixas dos jogos aqui presentes.
Uma coletânea nostálgica
A apresentação do título, em si (menus e temas), porém, poderia ter sido mais caprichada, tal qual o esmero depositado em Street Fighter 30th Anniversary Collection. É um hub simples que dá acesso aos sete jogos presentes e nada mais. De toda forma, só a simples existência dessa coletânea nostálgica — algo impensável até bem pouco tempo — já é algo para se comemorar, quer você goste ou não de um jogo de luta.
Além de lançar uma fagulha de esperança na tão esperada continuação da franquia Marvel vs. Capcom. Todos sairiam ganhando, a gente que ama esses jogos; a Capcom, que com toda competência que tem demonstrado nos últimos anos nos dá quase que certeza de um sucesso comercial e de crítica; e a Marvel que ainda poderia preparar terreno para o seu universo cinematográfico.
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