
Desenvolvedora: Nippon Ichi Software
Publicadora: NIS America
Gênero: RPG de estratégia
Data de lançamento: 30 de janeiro de 2025
Preço: R$ 314,99
Formato: Digital/Físico
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela NIS America.
Revisão: Davi Sousa
Não durma para os RPGs de estratégia da NIS!
A Nippon Ichi Software se tornou um dos meus estúdios de jogos favoritos desde que passei a ter um paladar apurado para SRPGs. Não é à toa que aqui, no NintendoBoy, escrevi sobre grande parte de seus lançamentos no Switch, desde a série Disgaea a relançamentos do passado que dão evidência ao know-how criativo de uma das desenvolvedoras mais notáveis neste âmbito.
Não me limitando apenas à série Disgaea, mas no que diz respeito a RPGs de estratégia, eu pude colocar as mãos em clássicos como Makai Kingdom, Soul Nomad & the World Eaters e La Pucelle. Embora estes jogos esbanjem um charme individualista, ofereçam mecânicas de jogo distintas e, claro, sejam jogos genuinamente bons, nenhum deles me cativou mais do que Phantom Brave.
Até aqui, você já deveria saber: se não conhece ou jogou Phantom Brave, então falhou como fã de SRPGs. Este é um jogo que se configura como clássico cult e ganhou versões para além do lançamento original de PlayStation 2 ao longo de duas décadas, permitindo que a NIS estudasse o seu apelo para ver o quão viável seria uma sequência para ele. E cá estamos aqui, em 2025, incrédulos que Phantom Brave: The Lost Hero está acontecendo!
Mas antes de prosseguir com a análise, eu joguei Phantom Brave uns anos atrás no Nintendo Switch, através da coletânea Prinny Presents NIS Classics Vol. 1, que deixarei a review em destaque a seguir. Então, sim, minhas expectativas para com The Lost Hero estão altas.
Aventura pirata pelos mares de Ivoire
É certo dizer que o que importa em um RPG estratégico é a sua jogabilidade, mas também podemos afirmar que uma boa história entrelaçada aos seus sistemas de jogo também agrega bastante à experiência do jogador.
O mais convencional em SRPGs são as tramas políticas densas, com personagens complexos cometendo crimes de guerra em um mundo de fantasia medieval estilo anime, algo comumente presente em joias como Final Fantasy Tactics, Tactics Ogre, Fire Emblem e até em sucessos recentes, como TRIANGLE STRATEGY e Unicorn Overlord. No entanto, a NIS vai na contramão destes tropes ao oferecer uma narrativa despretensiosa e bem-humorada; enquanto seu core business, Disgaea, apela para sátiras e o humor pastelão, Phantom Brave aposta em algo mais soft e acessível.

No jogo de 2004, lembro de como fiquei emocionado com a história de Marona, uma garota solitária que, ainda jovem, enfrentava o ódio e o medo das pessoas direcionados a ela, pelo fato de ser capaz de se comunicar com aqueles que já se foram. Mesmo assim, ela se manteve firme diante da rejeição até ser capaz de mostrar seu valor e ser reconhecida como uma heroína lendária após dar um fim no vilão antagonista Sulphur (spoiler? Talvez… mas a sequência joga isso na sua cara o tempo todo, então só lamento). É bem clichê, eu sei, mas mesmo pelo sua simplicidade em como contar uma história, o jogo era cativante e dava um soco no seu estômago sobre como elaborar um enredo onde todos se voltam contra uma personagem bastante afável e você fica indignado.
Phantom Brave: The Lost Hero no entanto, não conta com tal apelo, não na mesma escala. O jogo traz uma trama que ocorre seis meses após os eventos do original; aqui, Marona nunca se desviou de suas convicções, trabalhando como Chroma ajudando as pessoas, mas agora ela é respeitada e venerada. A estória, à primeira vista, soa como um episódio filler de Naruto clássico, ou até mesmo os filmes nos quais o ninja divide o protagonismo com um personagem feito apenas para aquela história.

Para deixar mais claro, Marona é separada de seu melhor amigo, Ash, após serem surpreendidos pela Frota do Naufrágio, os antagonistas da vez. A garota é encontrada encalhada em uma ilhota, lar de uma Phantom solitária chamada Apricot. Ela então descobre que Apricot foi filha do lendário pirata Argento, que uma vez acabou com a Frota do Naufrágio, mas desapareceu repentinamente. Com o poder do Chartreuse Gale, que concede forma física aos Phantoms, Marona se une a Apricot em busca de Ash e Argento, cruzando o mar de Ivoire enquanto formam a nova Frota Argento e disputam territórios com a frota rival problemática dos Piratas Jones.


Quando eu disse que a história de The Lost Hero tinha uma estrutura similar à dos filmes de Naruto, eu me referi às consequências do duplo protagonismo quando menos inclinado ao drama do personagem central. O jogo, em grande parte, é mais sobre Apricot formando seu novo grupo de piratas enquanto lida com o desprezo das pessoas para com a antiga Frota Angento, que ganhou má reputação por diversas circunstâncias. Marona tem sim seu desenvolvimento; afinal, ela precisa encontrar Ash. Ainda assim, por já ter passado por tudo que Apricot está vivendo como capitã, ela age como um ombro amigo, dando motivação e coragem a Apricot.

Eu entendo que Phantom Brave não entrega um conteúdo épico do que se espera do gênero, mas ele é bastante honesto e desenvolve bem a narrativa e os personagens. A história não é complexa ou profunda, eu admito, e às vezes pode ser enfadonha, mas o jogo possui substância e sabe entregar os momentos importantes na hora certa. Eu sou daqueles que não se importa se a história é simples demais, desde que ela seja bem elaborada e entregue um elenco interessante que sustente a narrativa, e The Lost Hero fez o dever de casa.

Mas se isso ainda não foi o suficiente para te convencer a conhecer a franquia, The Lost Hero certamente vai entregar algo digno de uma experiência profunda e desafiadora quando falamos de jogos estratégicos. Vou elaborar mais sobre no tópico a seguir.
Confine e adjacentes brilham em um combate estratégico dinâmico
Como eu disse no tópico anterior, integrar a narrativa à gameplay agrega valor ao jogo, da forma que os elementos se mantém alinhados e coesos à sua lore. Phantom Brave, claro, faz isso muito bem.
O Confine permite convocar Phantoms através de objetos comuns no cenário, desde uma rocha até uma espada que o inimigo deixou cair. Você pode invocar quantos Phantoms desejar no turno até que exceda o número de deployments disponíveis. Cada Phantom possui uma classe com stats distintos, e tais objetos usados para invocá-los concebem bônus nestes stats, assim fazendo com que o jogador perceba que é mais eficaz escolher aquele que irá explorar melhor o potencial do Phantom.

Na história, os Phantoms só podem se manter visíveis por um certo período de tempo. No combate, no entanto, isso se traduz em uma presença de tela limitada, na qual o Phantom invocado pelo Confine fica em jogo por três ou mais turnos. Caso ele seja nocauteado ou o tempo limite acabe, não é possível retorná-lo pelo resto da partida, assim dando uma camada de gerenciamento à experiência — devo colocar o máximo de Phantoms possíveis em batalha logo cedo ou guardar uma safra para o late game? Cabe a você decidir o melhor caminho.

Embora os jogos estratégicos da NIS dos anos 2000 fossem bastante similares em aparência e interface, cada um possuía algo que lhe dava singularidade. Em Phantom Brave, o Confine era a mecânica-assinatura que de forma alguma poderia se perder em The Lost Hero. A sequência, felizmente, foi além das minhas expectativas neste quesito ao oferecer novos sub-elementos que não ofusquem sua identidade, assim complementando-a de maneira orgânica e fidedigna à sua narrativa.
O Confriend é a evolução do Confine, atuando paralelamente com o mesmo. Nele, Marona “confined” um Phantom em si mesma, fundindo-se a ele temporariamente, dando uma nova aparência e forma como aquela unidade irá desempenhar no campo de batalha, atribuindo mais stats e habilidades. Isso te soa familiar? Pois é, não é uma mecânica inovadora caso já tenha experimentado o sistema de Emblem Ring em Fire Emblem Engage.

Tal como o jogo no qual ele supostamente se inspira, a “fusão” certamente te dará alguma vantagem, mas em The Lost Hero ela é bem mais restritiva. O Confriend faz com que Marona possa desempenhar seu trabalho mais de uma vez após encerrar seu turno, e como custo, o Phantom escolhido não retorna à batalha caso já esteja no cenário; caso não, sequer poderá ser invocado. A condição, ao meu ver, serve para as seguintes coisas: equilibrar o desafio sem quebrar o jogo e servir como uma contra-medida para lidar com situações complicadas sem desvalorizar seus fundamentos.
É importante que uma mecânica apelativa seja limitada a restrições ou custos para que o viés estratégico seja preservado. Lembro-me de como o Jumbification, em Disgaea 7 quebrava em certa escala o significado do gênero, tornando tudo uma algazarra generalizada em que você poderia apenas ficar gigante e varrer todo mundo. Claro, aqui o Confriend foi pensado para ser um recurso onde o jogador precisa pensar no momento certo de usá-lo, uma vez que ele demora bastante para recarregar.
Mas para além do Confriend, The Lost Hero introduz também os Gadgets, que são mecanismos que aparecem vez ou outra como um facilitador ou podem ser colocados em campo pela Apricot por sua própria habilidade. Ele possui a mesma regra do Confine, em que você atribui um Phantom ao mecanismo e ele estará ativo por alguns turnos. Você tem acesso a um grande ventilador que soprará intempéries para fora do cenário e uma catapulta que lança seus aliados para lugares mais distantes, além dos que Apricot possui para uso mais ofensivo.

Existem outros subelementos dentro do contexto do Confine, como o Confire e as novas skills integradas de Marona, Confight On! e Confast, que, respectivamente, aumenta em 1 o limite de presença de um Phantom e garante a prioridade do próximo turno. Tudo citado aqui são adições que engrandecem Phantom Brave em seu combate tático e evoluem de forma natural seus sistemas.
Devo também observar como a influencia de Disgaea é colaborativa ao implementar sistemas de fora da batalha para que os jogadores possam explorar outras possibilidades de fortalecer sua equipe de Phantoms. Temos o Juice, que estoca Exp. para que você use nos Phantom mais fracos; o Create Dungeon, que funciona como o Item World, onde você limpa mapas gerados aleatoriamente pra subir de nível ou aumentar seu base stats; e o Books & Eggs, em que personagens genéricos retornam ao nível 1 em troca de fortalecer seus stats, uma contraparte do Reincarnation de Disgaea.

Já me delonguei bastante; portanto, em suma, para quem curte um combate estratégico dinâmico e complexo, The Lost Hero faz muito bem. Talvez eu tenha sentido falta de algumas features como rewind ou auto-battle para o grind, mas, mesmo sem esses facilitadores, o jogo ainda brilha ao oferecer um sistema de combate engenhoso e divertido, além de claro, desafiador.
Infelizmente, parte da experiência é prejudicada por conta dos crashes inoportunos, que, mesmo com autosave, não te salvam se você está no climax de uma batalha. Ele também apresenta pontuais quedas de fps mesmo no modo Desempenho. Não sei se isto se limita à versão de Switch, mas até mesmo a demo na plataforma está com esses problemas. Espero que a NISA tenha um patch de day one nos planos, pois o retorno de Phantom Brave não pode ser ofuscado por problemas técnicos.
A nova identidade de Phantom Brave
É interessante notar o quão distoante é Phantom Brave: The Lost Hero de seu antecessor. Afinal, 20 anos se passaram e a tecnologia evoluiu a ponto de até mesmo desenvolvedoras pequenas entregarem jogos de orçamento médio ou baixo, porém não limitante.
Os novos visuais tridimensionais providos de uma engine problemática da NIS não parecem convincentes o suficiente para os fãs que se recusam a largar a era do pixel art; no entanto, eu notei que existe sim um polimento desde que o 3D passou a ser um padrão desde Disgaea 6: Defiance of Destiny.

A NIS do início dos anos 2000 ficou amplamente conhecida por jogos de estética em pixel que se misturava aos polígonos 3D. Era evidentemente low budget e a movimentação era rígida, mas tinha seu charme. No entanto, nem todo mundo engole esse tipo de coisa hoje em dia, além da caracterização em pixel art ser bastante trabalhosa.
Em suma, os visuais 3D de The Lost Hero não são perfeitos, mas funcionam e são bem-sucedidos em preservar a identidade da série. Você olha e de alguma forma ainda vê Phantom Brave de 2004, não sei explicar, desculpe. Porém, a única coisa que não dá para engolir são os lindos modelos desenhados por Takehito Harada, que são prejudicados por poses e expressões limitadas durante o segmento de diálogos, mas não colocaria este detalhe como algo determinante para a minha avaliação.

Colorido e divertido, The Lost Hero honra como uma boa sequência
Estou genuinamente feliz que Phantom Brave retornou! The Lost Hero é uma sequência honrosa que não se limita ao passado e quer oferecer ao jogador algo refrescante, mas mantendo a fidelidade do original.
É um título que inova em seus sistemas e abusa deles da forma correta; sobretudo, é desafiador o suficiente para amantes de SRPGs, mas também é acessível na mesma escala para os que não são assíduos no gênero. Sua história é igualmente acessível, oferecendo uma narrativa simples, mas bem estruturada e amarradinha, com um elenco de personagens colorido e divertido.
Deixando de lado os problemas técnicos, Phantom Brave: The Lost Hero saciou minha fome e acredito que também a dos fãs que sonhavam pelo seu retorno.
Prós
- Jogabilidade estratégica evoluida e divertida;
- O bom uso do Confine e adjacentes torna a experiência única;
- História simples e acessível, apresentando um elenco colorido e cativante;
- Seleção modesta de Phantoms para escolher e ferramentas úteis para melhor aproveitá-los.
Contras:
- A narrativa às vezes é enfadonha, perdendo parte da carga dramática do original;
- Crashes pertinentes e quedas de fps na versão de Switch.
Nota Final:
8