
Desenvolvedora: ArtePiazza
Publicadora: Nintendo
Data de lançamento: 17 de novembro, 2023
Preço: R$ 299,00
Formato: Digital (Nuuvem)/Físico (Amazon)
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela parceira Nuuvem.
Revisão: Davi Dumont Farace
Durante toda minha jornada como um assíduo fã de videogames, fui criando interesse por uma variedade de gêneros: jogos de plataforma, ritmo, luta, hack’n slash, entre diversos outros. Contudo, devo admitir que um dos gêneros que nunca me cativou foram os RPGs.
Por mais que eu tenha tentado jogar títulos populares como Final Fantasy, Dragon Quest e Xenoblade Chronicles, eles nunca conseguiram me fisgar de verdade; seja por um foco em história que em épocas anteriores não me agradava, ou uma jogabilidade que eu considerava chata. Claro, hoje minha tolerância para com os famosos roleplaying games aumentou muito e até joguei alguns do início ao fim, mas ainda assim é inegável que já há um “preconceito” por minha parte — se é que podemos chamar assim.
A exceção, no entanto, sempre foram os RPGs do Mario. Sim, nosso tão amado encanador italiano já teve suas próprias aventuras e tentativas com o gênero, a exemplo da série Mario & Luigi para os portáteis da Nintendo e os primeiros jogos de Paper Mario nos consoles de mesa; ambos sendo excelentes spin-offs que possuem charme o bastante para se distinguirem um do outro, com destaques para Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story e Paper Mario: The Thousand-year Door — este último que, pasmem, está recebendo um relançamento para Nintendo Switch nos próximos meses!

No entanto, eu diria que em todo o catálogo de RPGs do bigodudo existe UM jogo que se destaca de todos os outros, e foi justamente aquele que deu início a tudo: Super Mario RPG: The Legend of the Seven Stars, lançado para o SNES em 1996 em uma parceria entre Nintendo e Square Soft, cuja recepção o daria o status de classico cult, mas que em vez disso ficou mais como “clássico esquecido” nos anos que seguiriam. Contudo, apesar de ter sido lançado no final da vida do console e às vésperas do N64, Super Mario RPG se saiu excepcionalmente bem comercialmente, conquistando uma legião de fãs que começaram a esperar por uma sequência que nunca aconteceria.
A verdade é que, Super Mario RPG estava preso em uma corrente entre a Nintendo e a Square, que na quinta geração de consoles começou a focar seus esforços apenas no PlayStation, da Sony, assim prejudicando sua relação com a Nintendo que vinha de uma valorosa aproximação desde o NES, tornando uma sequência direta feita pelo mesmo time algo quase que impossível.
Claro, tivemos os já mencionados Paper Mario — que por curiosidade originalmente se chamaria Super Mario RPG 2 — e a série Mario & Luigi, que em uma nota pessoal são excelentes. Contudo, nenhum dos jogos posteriores das respectivas franquias foram capazes de capturar a mágica que Super Mario RPG exalava em todos os cantos.

Por esse motivo, infelizmente esse clássico acabou sendo “esquecido”. Além de alguns relançamentos via emulação, um easteregg em Mario & Luigi: Superstars Saga e menções sutis em Super Smash Bros., Super Mario RPG nunca teve o destaque que mereceu, tanto por parte da Square, a desenvolvedora original, quanto pela Nintendo. Mesmo tendo uma legião de fãs clamando por qualquer conteúdo relacionado ao game, a cada ano que se passava esse sonho parecia ficar cada vez mais distante e adormecido… PORÉM!

Contrariando todas as expectativas, em uma típica Nintendo Direct que parecia ousada, uma recriação de Super Mario RPG foi inesperadamente anunciada! É até um pouco difícil colocar em palavras o quanto fiquei feliz e emocionado com aquele momento; algo que parecia tão impossível aconteceu diante dos meus olhos; um jogo que era tão especial para mim e para tantos outros e que, durante anos parecia que nunca retornaria de forma digna, estava finalmente sendo anunciado bem à minha frente.
Mas enfim, Super Mario RPG revive em uma nova interpretação para o console híbrido da Nintendo, mas seria realmente o retorno que este jogo tão amado e intrigante merecia, ou ele acaba sendo apenas “mais um” numa legião interminável de outros remakes? É claro que depois dessa introdução bastante contextual e intimista você não deixaria de ler o restante, certo?
Uma apresentação remodelada, mas fiel
Super Mario RPG chamou muita atenção em seu lançamento para SNES por conta de seus gráficos chamativos que se destacava de qualquer outra experiência de RPG de 16-bits do console. O jogo ostentava o uso da mesma tecnologia de gráficos 3D pré-renderizados que transformou títulos como Donkey Kong Country no sucesso que foram, o que resultou em um dos jogos mais impressionantes visualmente para sua época.

Mas apesar de ter envelhecido bem, é fácil de entender àqueles que gostariam de ver como seria o game caso os modelos 3D não tivessem que ser transformados em sprites para o Super Nintendo não explodir enquanto tenta executá-lo, e eu fico feliz de dizer que o remake de Super Mario RPG chega muito próximo disso!
Dos modelos dos personagens até a geometria do mundo, tudo foi cautelosamente recriado visando remeter ao jogo de 1996 o máximo possível enquanto adiciona e revela detalhes que antes não poderiam ser vistos. Sendo na minha opinião um dos melhores exemplos de como se tratar os gráficos de um remake de um game que é tão amado por seus fãs.
O mesmo pode ser dito para a trilha sonora, Super Mario RPG original tinha arranjos marcantes que ficaram na cabeça dos fãs por anos, e a música de Yoko Shimomura atualizada não decepciona, com muitos arranjos orquestrados e belos que, com certeza, vão fazer os boomers derramarem algumas lágrimas.

É importante ressaltar que a opção de utilizar os arranjos clássicos do Super Nintendo também está presente para os mais saudosistas, e enquanto eu provavelmente nunca irei usá-los, é uma adição mais do que bem-vinda e que só acrescenta à qualidade do pacote e ao mesmo tempo respeita o trabalho do time original.

Outro destaque vai para as cenas em CGI. Vários momentos considerados mais importantes do game clássico foram recriados com um CGI de ponta que dão uma cara muito mais “moderna” à Super Mario RPG. Elas se utilizam de ângulos de câmeras diferentes, animações de altíssima qualidade e, claro, visuais fantásticos.
Um RPG simples, mas que encanta
A verdade é que, Super Mario RPG não é nem um pouco complexo. O jogo sempre foi pensado como um “RPG para iniciantes” pelo gênero não ser muito famoso no ocidente, especialmente em 1996; então não esperem por mecânicas super complexas, o game é bem direto ao ponto e na minha opinião esse é um de seus maiores encantos.
A simplicidade em todas as suas ações, desde montar sua party, equipar armas e armaduras, atacar e até mesmo o ato de explorar o overworld são o que fazem de Super Mario RPG um dos jogos mais amigáveis que o gênero tem a oferecer, mas que ainda assim consegue conquistar o jogador com suas mecânicas inventivas.

Para começar, a exploração do mundo pega muito dos jogos tradicionais do Mario, onde em muitos momentos você vai se encontrar pulando de plataforma em plataforma para coletar itens, encontrar NPCs ou simplesmente chegar em novos locais. E isso cria uma identidade única para o RPG do encanador, junto de uma movimentação bem mais “livre” e empolgante que se diferencia de outros do mesmo gênero, especialmente na época dos 16-bits.

O jogo também tem atividades secundárias em abundância. Super Mario RPG pode até ser linear, curto e difícil de se perder, mas ele também é repleto de pequenas e divertidas coisinhas espalhadas pelo mundo que dão um charme a mais para o pacote; desde apostar corridas com o Yoshi até ajudar um Toad a compor uma música utilizando girinos, a variedade é bem grande.

As batalhas já são mais padrões de RPG: as lutas são baseadas em turnos, onde você seleciona os movimentos da sua equipe e depois chega a vez dos inimigos atacarem. No entanto, o que diferencia Super Mario RPG de outros do mesmo gênero são os “Timed Hits”, algo que viraria padrão nos RPGs do Mario no futuro.
Basicamente, se você apertar “A” no momento certo enquanto um de seus personagens está executando uma ação, você amplifica o poder de execução dela, por exemplo: se Mario estiver atacando, ao pressionar A no momento correto o seu ataque dará mais dano. Se estiver defendendo, o ataque inimigo tirará menos de seu HP.

Uma mecânica tão genial e simples que consegue deixar cada uma das batalhas muito mais baseadas na habilidade do jogador além de, novamente, dar uma identidade única ao jogo. O remake não muda muitas coisas se compararmos ao original, mas duas adições foram feitas: primeiro, se você executar um “Timed Hit” perfeitamente, todos os inimigos por perto irão levar dano ao invés de apenas o que você está atacando. Segundo: durante as lutas, um medidor no canto da tela começará a encher conforme você acerta os Timed Hits em sequência, e quando ele estiver completo você terá a opção de desferir um poderoso ataque especial em trio.

Cada trio possível do jogo tem um ataque especial diferente, e com 5 personagens jogáveis (com Mario sendo obrigatório no time), isso dá um total de 6 ataques especiais! Duas adições divertidas que te dão um incentivo a mais para treinar o tempo correto de utilizar seus ataques e se defender dos inimigos.
O universo Super Mario é expandido
Sendo um RPG, sumariamente um JRPG, é de se esperar que Super Mario RPG vá ter uma história no mínimo um pouco mais complexa que o “resgate a princesa” que os jogos do encanador demonstravam até então. Bem, de início, não é exatamente isso que o game dá a entender.
A premissa inicial é que a Princesa Peach estava vendo flores perto da casa de Mario, quando de repente Bowser chega com seu Clown Car e a sequestra. O encanador, notando isso, vai direto para o castelo do Rei dos Koopas.

Sim, Super Mario RPG começa de onde os jogos do Mario costumam terminar, com Mario já prestes a invadir o castelo de Bowser e resgatar a princesa, e o roteiro teria terminado dessa exata forma se o improvável não acontecesse: cai dos céus uma espada gigante chamada Exor que parte a Star Road em 7 pedaços de estrelas menores e toma o castelo de Bowser para si, expulsando nossos heróis e vilões da fortaleza.
Agora separados e em partes distantes do mundo, Mario toma para si a missão de encontrar a Princesa Peach, derrotar Exor e impedir seja lá quais sejam seus planos, além de recuperar as 7 estrelas para reconstruir a Star Road, lugar responsável por transformar os sonhos de todos do mundo em realidade.

No decorrer da história, Mario também terá alguns novos aliados: Mallow e Geno. Mallow é uma nuvenzinha chorona e carismática que inicialmente acha que é um girino de Tadpole Pond, mas logo descobre sua verdadeira identidade e história. Já Geno é, na verdade uma estrela chamada “♡ ♪ ! ?” que veio dos céus e possuiu um boneco visando reconstruir a Star Road para que os sonhos de todos possam ser realizados novamente.
Os dois carismáticos personagens foram rápidos em cair nas graças dos fãs no lançamento do game original em 1996, e eu fico muito feliz em ver os dois de volta em belíssimos gráficos HD.

A história de Super Mario RPG não é nada que vai fazer seu queixo cair, ela não chega a ser revolucionária e é até bem simples se compararmos com outros RPGs, mas, ao mesmo tempo, fez algo que nenhum outro game do Mario havia feito até então: mostrar todo o potencial que esse universo e personagens possuem.
É uma história muito charmosa, divertida e bobinha, mas que, ainda assim, consegue ser tensa e tocante quando percebe que é necessária. Além disso, amplia o universo de Super Mario e mostra toda a personalidade que personagens como Mario, Peach e Bowser têm, mas que nunca eram mostrados nos principais jogos de plataforma 2D.
É, de certa forma, uma aventura mágica, que, com seus diálogos engraçados e personagens carismáticos, conquistou uma geração inteira de jogadores em 1996 e tenho plena certeza de que irá cativar uma nova em 2023.
Uma aventura mágica, e um sonho realizado
Se eu pudesse descrever Super Mario RPG com uma palavra, ela com certeza seria “Especial”. Apesar de termos diversos outros RPGs do Mario, eu acredito que nenhum deles consegue ter todo o charme e mágica que Super Mario RPG exala em todos os seus aspectos, desde suas simples mas incríveis mecânicas até sua história e amáveis personagens.
Sendo realista, a nova versão não precisava mudar tanta coisa do game original e apesar de um pós game ter sido adicionado – além de um novo chefe -, ele realmente não o fez. Em seu núcleo, o remake de Super Mario RPG é o mesmo jogo que foi lançado em 1996, apenas com apresentação aprimorada e algumas de suas mecânicas refinadas… e honestamente, isso era exatamente o que eu queria.
Super Mario RPG nunca foi um jogo problemático, ele sempre foi uma experiência sólida em tudo que tentava fazer e um dos meus principais medos com uma recriação do jogo era justamente os desenvolvedores mudarem coisas demais, especialmente com a onda de remakes atuais como Resident Evil 2 ou Final Fantasy VII, que são ótimos jogos, mas que quando falamos da gameplay, não lembram em nada suas versões clássicas. E é por isso que eu fico feliz de ver uma homenagem tão fiel e respeitosa à um clássico que eu amo tanto.

É confortante saber que novas gerações vão poder apreciar essa pérola da mesma forma que eu fiz em minha infância, e é um sonho poder dizer que Super Mario RPG está nos holofotes novamente de uma maneira tão digna e respeitosa à um jogo que me marcou tanto. O passado e presente finalmente se encontraram: Super Mario RPG marcou minha infância, e agora eu posso alegremente dizer que ele marcou minha vida adulta também.
Prós:
- Fiel ao clássico de SNES;
- Trilha sonora refeita está linda;
- Visualmente agradável;
- Melhorias de QoL nos principais sistemas de jogo;
- Adição de cenas em CGI.
Contras:
- Falta de localização em PT-BR.