Desenvolvedora: Experience
Publicadora: Aksys Games
Gênero: Adventure, Horror
Data de lançamento: 15 de fevereiro, 2024
Preço: R$ 254,83
Formato: Físico/Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela Aksys Games.
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Bem-vindo a Konoehara Academy
Se passando 4 meses após os incidentes do primeiro jogo, Spirit Hunter: Death Mark II conta novamente uma história protagonizada por Kazuo Yashiki, que é contratado para investigar o colégio Konoehara em H City, que aparenta ser alvo de eventos sobrenaturais. No jogo, acompanhamos Yashiki tendo que se infiltrar no colégio como professor com o intuito de investigar o local mais de perto, juntamente com os seus companheiros do primeiro jogo e personagens novos, sendo estes alunos e professores de Konoehara Academy.
Algo que fez muito bem ao desenvolvimento da história em Death Mark II em relação ao primeiro Death Mark é o fato de que o jogo se passa praticamente em um único ambiente, a escola Konoehara. O primeiro jogo da série sofre por possuir um elenco de personagens rotativo que aparecem muito pouco e tem os seus arcos concluídos rápido demais. Mesmo não abrindo mão da estrutura episódica e da divisão por capítulos, que são comuns da série, o jogo consegue manter a história geral interessante, mesmo possuindo arcos que se iniciam e se fecham brevemente.
Grande parte do que é apresentado é de fato apresentado por um motivo e contribui para a narrativa geral além dos capítulos isolados. Os espíritos e personagens que foram trabalhados em cada capítulo também não se perdem e são posteriormente relembrados e importantes para a progressão da narrativa. Isto resulta em uma história que é, no geral, muito bem amarrada e uma narrativa com um ritmo engajante com um final satisfatório que amarra todas as pontas. Pode não ser o final mais surpreendente de todos mas toda a construção do inicio até o momento final é muito bem feita.
Os acompanhantes de Yashiki no primeiro jogo retornam para acompanhá-lo novamente na investigação de espíritos. Desta vez é notável que cada um dos personagens possui um pouco mais de tempo de tela sendo um pouco mais bem aproveitados. Não são de forma alguma personagens “relevantes” para o desenvolvimento da trama mas são personagens legais de se ter por perto. O jogo faz um bom trabalho fazendo com que o jogador se importe com eles o suficiente para que queira que os mesmos sobrevivam ao final de cada capítulo.
Um refresco no gameplay da série
A exploração é completamente em side-scrolling enquanto os momentos em primeira pessoa são reservados para a exploração em cenas específicas, limitadas a uma única tela. No entanto, devido ao gameplay 2D, tornou-se ainda mais difícil perder itens, ou deixar passar elementos que podem ser interativos ao longo do mapa. Isso torna o jogo significativamente mais fácil, mas não deixa de ser menos divertido de forma alguma. No geral, a única mudança significativa que essa mudança oferece ao jogo em relação aos seus antecessores é na forma com que o jogo se apresenta, como se fosse uma roupagem diferente para a mesma mecânica de point-and-click do primeiro Death Mark e NG.
Novamente, a série Spirit Hunter experimenta com uma mecânica de escolher um personagem para acompanhar Yashiki durante a exploração das fases. Esse aspecto do gameplay funciona exatamente como funcionava em seus antecessores, alguns personagens possuem habilidades e medos distintos e reagirão de forma diferente a situações específicas. Para contornar uma possível barreira ao explorar um nível, o jogador deve então, voltar à enfermaria, que serve como o hub principal do jogo e local de save dentro da escola e trocar de acompanhante para que o mesmo possa auxiliá-lo de forma efetiva.
Algo que também recebeu uma repaginada em relação ao seu antecessor, foi a forma com que o combate com os espíritos é realizado. Desta vez, cada personagem possui um custo de energia espiritual, que funciona como o HP do personagem para realizar cada ação, além de uma porcentagem que indica a probabilidade daquela ação falhar ou acertar. Caso a ação falhe, o jogador poderá tentar realizar a ação novamente, porém com um acréscimo na porcentagem de chance daquela ação ser realizada com sucesso. Essa mecânica pode parecer um tanto quanto boba a princípio, mas muitas vezes me vi medindo esforços para calcular quantas ações poderia errar até atingir o resultado satisfatório, e esse aspecto agravou ainda mais a tensão de cada ação.
Cada uma dessas ações pode ser realizada individualmente pelo protagonista ou pelo acompanhante, mas também existem ações que exigem que ambos os personagens realizem uma ação juntos. Vale ressaltar também, que cada personagem tem os seus pontos fortes e fracos em relação a cada tipo de ação em questão, isso deve ser levado em conta na hora de escolher qual personagem acompanhará Yashiki em cada situação.
Para contornar a baixa probabilidade de chance e o custo elevado para realizar cada ação, o jogador também pode procurar por determinados itens chamados de “eerie tooth” ou “dente fantasmagórico” em tradução livre. Esses dentes podem ser trocados por itens mágicos na enfermaria e servem como upgrades para o consumo de energia espiritual e porcentagem de acerto de ações durante o embate contra espíritos.
Como o horror é retratado
Falar que a arte de Death Mark II é bonita, é chover no molhado. A cada título novo da série que é lançado, podemos ver que o time de arte da Experience Inc. consegue lidar muito bem com diversas abordagens no que diz respeito a direção de arte. A abordagem estética de Death Mark II naturalmente se assemelha um pouco mais a do primeiro Death Mark do que do clima mais jovem e descontraído de NG. No entanto, é visível que houve uma melhoria no traço de Fumiya Sumio em relação ao primeiro título, as ilustrações e retratos dos personagens estão mais bonitos e visualmente interessantes.
A ambientação de Death Mark II é bem menos caótica e desolada do que no primeiro jogo, visto que a maior parte do jogo se passa em uma escola que possui dois prédios, um em pleno funcionamento e um que foi abandonado a algum tempo. O jogo de fato possui uma limitação no tipo de cenário que é explorado, o que pode ser considerado um downgrade em relação ao primeiro jogo, que busca sempre variar os locais que são visitados.
A parte do gameplay em 2D é interessante, os personagens são bem desenhados e animados, e existem diversas áreas no colégio e arredores para se explorar. No entanto, apesar de possuir o seu charme, o gameplay em side-scroller também acaba por limitar a arte do jogo, afinal acabamos vendo ainda menos ilustrações belas das áreas exploráveis que eram comuns em Death Mark e NG e que eram mais interessantes do que o ambiente 2D apresentado. Porém, acredito que o que a arte pode acabar perdendo um pouco seja compensado com as melhorias em história e gameplay que o foco em um ambiente só pode proporcionar.
A trilha sonora de Death Mark II também é um ponto que merece destaque. O jogo utiliza faixas que já são bastante icônicas de ambos Death Mark e NG e acrescenta diversas músicas novas que tocam em momentos específicos, incluindo faixas com vocal
A problemática
Death Mark II possui uma quantidade de fanservice que para muitos jogadores, pode ser irritante. Esse tipo de cena já era presente no primeiro título da série, mas nunca foi nada tão expressivo quanto o que é apresentado em Death Mark II. Isso é ainda mais preocupante quando considerado que as vítimas desses momentos são mulheres em 100% das vezes que o jogo se dispõe a mostrar esse tipo de cena, incluindo garotas em idade colegial.
No caso de Death Mark II, é notável que o jogo tenta fetichizar determinadas cenas que seriam normalmente assustadoras ou nojentas, ou seja, o oposto do que tenta ser retratado naquele momento, o que gera uma contradição na construção da cena para aquele momento, do ponto de vista narrativo. Não existe nada de sexual em ver personagens femininas sendo atacadas por um espírito maligno, recheado de tentáculos asquerosos, enquanto lutam para sobreviver. Isto não é algo que deveria ser fetichizado e infelizmente, Death Mark II peca nesse aspecto e acaba caindo em clichês nocivos e desrespeitosos do gênero.
Não tenho problema contra ecchi ou fanservice quando há motivo para tal, algo que acrescente na história ou ajude a passar um certo sentimento ou mensagem em relação ao que está tentando ser dito. Death Mark II eventualmente apresenta um “motivo” para a existência de algumas dessas cenas de fanservice, pode não ser um motivo que justifique a falta de sensibilidade com que essas cenas são apresentadas mas ainda assim, ajudam a deixar esses momentos um pouco menos gratuitos.
Death Mark II também lida com outros tópicos muito sensíveis, incluindo relacionamentos amorosos entre alunos e professores. Em nenhum momento o jogo relativiza esse tipo de relacionamento, inclusive condena em momentos pontuais. Pode não parecer muito, mas o fato de que existe uma sexualização de personagens menores de idade me fizeram acreditar que o jogo seguiria um caminho oposto ao que foi apresentado, o que pra mim foi um grande alívio.
Conclusão
Spirit Hunter: Death Mark II provou ser o melhor jogo da série até o seu lançamento. Aprimorando mecânicas previamente apresentadas enquanto tenta com sucesso implementar mecânicas novas e interessantes, a Experience Inc. conseguiu criar um mundo com personagens carismáticos e um mistério cativante e imersivo que são muito bem acompanhados por um gameplay satisfatório que flui de maneira orgânica. Em suma, Death Mark II é um excelente jogo de horror e definitivamente merece ser jogado por fãs do gênero apesar dos tropeços.
Prós
- Ótima história;
- Personagens carismáticos;
- Direção de arte excelente;
- Gameplay engajante;
- A história tem um bom ritmo.
Contras:
- Reviravoltas um pouco previsíveis;
- Fanservice desnecessário.
Nota Final:
9
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