Desenvolvedora: SNK, Code Mystics
Publicadora: SNK
Gênero: Luta, arcade
Data de lançamento: 22 de Julho, 2024
Preço: R$103.41
Formato: Digital
Análise feita no Nintendo Switch com cópia fornecida gentilmente pela SNK.
Revisão: Erick Figueiredo
O final dos anos 90 e início dos anos 2000 trouxe para o mundo dos games algo impensável nas gerações 16 e 32-bits. Um crossover envolvendo as duas maiores desenvolvedoras de jogos de luta até então: SNK e Capcom. A SNK é muito conhecida por jogos como Fatal Fury, Samurai Shodown e The King of Fighters. Já a Capcom é a criadora de clássicos como Street Fighter e Darkstalker. Um jogo envolvendo os personagens dessas duas empresas era o sonho de qualquer jogador de videogame.
No acordo estabelecido entre as duas desenvolvedoras, seriam lançados quatro títulos envolvendo os seus personagens. Dois jogos foram realizados pela Capcom e dois pela SNK. SNK VS. CAPCOM SVC CHAOS, lançado pela SNK Playmore, em 2003, foi o último jogo do acordo firmado entre as duas empresas. Reza a lenda que o seu lançamento se deu apenas para satisfazer as obrigações do contrato estabelecido, já que a SNK anos antes, em 2001, havia decretado falência.
No dia 20 de julho, durante a Evo 2024 — principal campeonato de jogos de luta do mundo dos games — foi anunciado o relançamento do título, que chegou via shadow drop para PC e dois dias depois para Nintendo Switch, PlayStation 4 e Playstation 5. O jogo apesar de ser, para todos efeitos, o mesmo lançado lá atrás para Arcade, PlayStation 2 e Xbox, conta com algumas novidades e conteúdos adicionais.
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Apresentação e modos de jogo
A apresentação de SNK VS. CAPCOM SVC CHAOS, em si, é bastante modesta. Me refiro a transição da animação inicial para a tela título, menus e temas, que poderiam ter sido melhor trabalhados para os consoles atuais, mas que possuem um design direto e super minimalista. O título segue o clássico esquema dos jogos de luta da década de 90 contextualizando muito pouco a história e as motivações dos personagens. No fim Ryu enfrenta Kyo, Ken enfrenta Terry e Chun-Li enfrenta a Mai porque é legal e ponto! Não que eu esteja reclamando disso, apenas pontuando.
Podemos optar por jogar de forma local (para um ou dois jogadores) e online com rollback netcode — que diminui problemas de lag por conta de instabilidade no sinal de internet. Existe também a opção de treinamento para aprender os golpes, especiais e combos dos personagens (mas, que não conta com uma lista de combos); um menu de galeria com artes conceituais, que poderiam ser desbloqueadas conforme avançamos no jogo, mas que já se encontram disponíveis desde o início; e um local em que podemos ver troféus que são desbloqueados após realizar uma tarefa específica. Uma opção com a “bio” dos personagens, explicando de quais franquias das duas empresas eles vieram e a localização dos menus e textos para o nosso idioma, seria bem-vindos, mas não foi dessa vez.
Em termos de conteúdo, acredito que SVC CHAOS poderia trazer mais coisas que pudessem prolongar nosso contato com o jogo para além do modo online. As músicas, narração e o sistema de batalhas já eram datados em 2003 e, por ser apenas um port, puro e simples, nada foi feito para mudar minimamente isso. Em crossovers, geralmente, montamos um time para enfrentar os adversários. O próprio KOF — em que montamos trios — é assim, mas aqui as lutas seguem um ritmo mais tradicional de um contra um. Existem duas barras de vida e quando os personagens chegam a 50% dela podem usar um super golpe único chamado de Exceed a qualquer momento. Os especiais, no entanto, não têm o mesmo peso visual – com sombras, luzes e demais efeitos em tela – visto em outros jogos do gênero. É tudo muito enxuto!
Elenco robusto e desbalanceado
O jogo conta com um vasto número de personagens. Temos ao todo 24 lutadores à nossa disposição e podemos ainda jogar com 12 personagens secretos (6 da SNK e 6 da Capcom), com um segurar de botões (LB), totalizando 36 lutadores. Os personagens secretos estão disponíveis desde o início e são o que chamamos de “roubados”, são super desbalanceados, causando uma grande quantidade de dano contra oponentes do elenco regular. Apesar do número expressivo, o elenco não explora muito o universo das duas empresas e é composto quase que totalmente por personagens de The King of Fighters e Street Fighter.
O jogo em si, na verdade, é bastante desbalanceado. A impressão que tive é que os personagens da SNK são superiores e melhor trabalhados do que os personagens da Capcom. Jogadores inexperientes podem ter alguma dificuldade ao enfrentar os personagens do time de KOF. Em linhas gerais, o jogo é bem difícil, mesmo na dificuldade mais baixa contra o CPU. Salvo o desbalanceamento, o título possui alguns problemas de hitbox muito chatos, onde golpes que parecem que irão alcançar o adversário não o atingem e golpes que não deveriam nos atingir acabam nos acertando. Até existe uma opção de ligar um visualizador de hitbox, que detalha a área de colisão para melhorar nosso timing, mas não passa disso.
SVC CHAOS se diferencia por trazer os personagens da Capcom com o design dos personagens da SNK, visto em títulos como The King of Fighters. Os novos modelos dos personagens da Capcom, parece ter como base o visual de Street Fighter 2 e suas “milhares” de edições, contando inclusive com o mesmo leque de golpes e especiais. Esse relançamento possui ainda filtros que atenuam o serrilhado dos sprites dos personagens e cenários. E também nos dá a possibilidade de “esticar” as proporções da tela de forma artificial de 4:3 para 16:9 dos televisores e monitores atuais. Os controles seguem a simplificação dos títulos da SNK com apenas dois botões de soco e dois para chute, mas sem a opção de rolamentos – que facilitaram a fuga ou aproximação de oponentes – e o refinamento visto em outros títulos da empresa.
Divertido, apesar dos problemas
O relançamento de SNK VS. CAPCOM SVC CHAOS funciona para apresentar o jogo para novos jogadores e aguçar o sentimento de nostalgia nos jogadores de longa data. No que se refere à ideia de preservação, é sempre bom ter meios oficiais para experimentar um clássico, que estava confinado nas plataformas da 6º geração. O modo online agrega valor ao jogo, funciona muito bem por conta do rollback netcode e, particularmente, torço para que a comunidade não o abandone tão cedo. O preço, nos consoles, poderia ser mais convidativo por se tratar de um port de um único jogo e sem grandes novidades, mas mesmo com todos os problemas é divertido e uma boa opção para galera que adora um X1.
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